UM OGAN DE OGUM
UM OGAN DE OGUM
Chegou a terça-feira do santo,
Para estar no terreiro a orar,
Há os cantos no estilo bantu,
Mas também o nagô vão tocar.
Um ogan pode ser um ministério,
Que exija mais presença e olhar,
Dando paz necessária ao mistério,
Para que o orixá venha visitar.
Se há o corte para as oferendas,
E a comida for servida com axé,
Algo diz que o erê quer merenda,
E não a pimenta em seus canapés.
Com o mel, junto à flor do dendê,
Vão regar o alguidar numa dicissa,
Com folhas novas de manga e cajá,
Numa camarinha de novos artistas.
Afinal, reza pode ser uma arte,
Pois traz alegria na folia ou fé,
Bem melhor do que ser Malazarte,
Buscando a vida que lhe convier.
Ter respeito e vontade de luta,
Assim eu irei nos dias que tenho,
Se o passado se foi na labuta,
E o resto são trutas do tempo.
Mas agora, mesmo sem ter padiola,
Eu sei quando o rei quer alimento,
Porque o seu pretexto é sem hora,
Pois já somos libertos ao vento.
Desde que Ogum adentrou na terra,
Depois que matou sem ter a razão,
Foi cansado, e não viu ser a reza,
Se estavam calados numa procissão.
Mas deixou os seus filhos prontos,
E uma responsabilidade ancestral,
Pois um clã é casa de encontros,
Que não precisam de um edital.