Magia
Que magia era aquela que Maria fazia.
Alma perfumista a criar bálsamos tão nobres, tão raros, tão delicados.
Era magia, eram bálsamos enfeitiçados, capazes de tirar das almas até os seus pecados.
Da forma mais primitiva fervia flores, destilava vapores. Sabia, como sabia, o ponto certo, a hora exata de resfriar o vapor, que continha a essência aromática daquela flor.
A sábia Maria extraía de cada flor o odor mais puro, mais concentrado, a nenhuma outra essência misturado.
A suma perfeição, assim eram os bálsamos que saíam de sua mão.
Em quem pensava enquanto os preparava.
Pensava no homem Deus a quem amava.
O bálsamo maios nobre guardava em vasos de alabastro, e só os abria quando Cristo por ali aparecia.
Preparados com tanto amor, com eles lavaria os pés do Príncipe da Luz, o primogênito do Grande Senhor.
Era Maria que seria um dia Maria de Betânia, a mais simples de todas as Marias que, como satélites, em torno de Cristo gravitavam.
Amava o homem e amava o Deus que ele representava.
Amor platônico, amor divino, amor cristalino.
Alma perfumista empenhada em aperfeiçoar os bálsamos que em Betânia se andavam a preparar.
Quando Cristo disse para Marta: Maria escolheu a melhor parte, era também a isto que Cristo se referia.
Maria Trabalhava, era perfumista, fazia o que mais gostava, por isso o trabalho não a cansava.
E Marta insistia em fazer de Maria outra mulher a fazer o que não gostava, o que não queria.
Lita Moniz