EU GRITEI COMO ANJO E ERÊ
EU GRITEI COMO ANJO E ERÊ
Vivo com meus orixás e guias,
E com suas expressões de viver,
E por isso eu sinto as agonias,
Quando me exponho ao conviver.
Foi sentido as dores do parto,
Desde quando cheguei logo cedo,
Que me vi abiku no meu quarto,
Numa caixinha forrada de medo.
Mas o colo sadio da mãezinha,
Num carrego de tanta esperança,
Deu a força durante a noitinha,
E me deixou ser feliz e bacana.
Logo vi ter o amparo de Oxum,
Com Oxóssi zelando ao lado,
Com a justiça de Xangô e Ogum,
Pra vencer as dores num brado.
Eu gritei e chorei como anjo,
Sendo erê que faz coro e alegria,
Com a gaita ou tocando o banjo,
Pois eu sou a mistura que guia.
Fui crescendo olhando pra Dan,
E as bençãos do meu Ogunjá,
Se Omolu permitiu meu afã,
De viver com a folha e o chá.
E assim foi que vi rio e mar,
Comi peixe mesmo sem saber,
Voei em cada dia a nascer,
Aprendendo meu jeito de amar.
Fiz carreira na fé de viver,
Pois a vida é segredo do mar,
E poder merecer o meu nascer,
Para ter a família e meu lar.
E Oxalá preparou o meu corpo,
Com seu barro e os mistérios,
Além de fazer-me de porto,
Pra só Deus Olorum venerar.
E assim, continua minha vida,
Defendendo a paz como a regra,
Pois no dia da minha partida,
Buscarei o perdão como entrega.