Zé ninguém
Antonio Feitosa dos Santos 

Eu levo a vida pensando,
Nas coisas que os olhos veem,
Nos tagarelas dissonantes,
Naqueles que tudo creem,

Não me escapa ninguém.
Vestidos ou descamisados,
Sem vestes o maltrapilho,
De terno o bem trajado,

Se o mundo é para todos,
Não se escolhe ser alguém,
Somos todos iguaizinhos,
Eu você e o Zé ninguém.

Não me venha com desdém,
Dizendo sou diferente,
Por mais que você não queira,
Vergôntea de igual semente.

Fui descrente e hoje crente,
Da igualdade entre todos,
Não fuja do menos abastado,
Amanhã tu não fugirás do lodo.

Não importa em teu sono o cetim,
Não importa a pompa de ninguém,
O lodo que o teu corpo corrói,
Corrói o corpo do Zé também.

Talvez num encontro ousado,
Num lugar que o chamo além,
O senhor ao servo: quem és?
Lá, eu era um zé ninguém.

Estive desnudo e não me vestistes,
Com sede não me deste de beber,
Com frio, não me agasalhastes,
Com fome, não me deste de comer.

Postado por Antonio Feitosa dos Santos
Em 3/2/2021 à 00h04 

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