Os últimos dias têm sido assim!
Há um poço de lágrimas ao meu redor.
Por um momento, já não sei mais quem sou.
Apenas alguém murmurando lamentos.
Soluçando amargamente um passado de seis décadas.
Seis décadas de vida.
Seis décadas de escolhas.
Veio a conta, finalmente, ainda em vida.
Talvez prematuramente.
Os dias são sombrios, de isolamento.
Estou só.
As paredes e eu.
Mais elas do que eu.
São em maior número, são frias, não sentem.
Quisera eu não sentir.
Quisera eu não ter remorsos.
Quisera eu olhar para trás e não ter tanto do que me arrepender.
Dia cinzento, como a saudade.
A saudade é cinzenta, não tem cores.
Tortura a mente.
Esmaga a alma.
Dilacera o coração.
O amor, sim, brilha.
A lembrança é viva, colorida, vibrante.
Há um poço de lágrimas ao meu redor.
Tem sido assim.
Os últimos tempos têm sido assim.
De encontro comigo mesmo.
De acerto de contas.
Saudável? Creio.
As lágrimas limpam a alma.
Os lamentos faxinam o espírito.
Os soluços espantam os remorsos.
Vejo um mundo diferente.
Vejo a simplicidade como a essência de tudo.
Desejo, como nunca desejei tanto, o abraço dos meus afetos.
Não sou mais autossuficiente como sempre julguei ter sido.
Era só aparência, escudo, defesa.
A água límpida me lava o rosto.
Tento renovar a esperança.
Tem sido assim.
Os últimos tempos têm sido assim.
Os novos dias serão assim?
Ou os últimos?
O Umbral me aguarda.
E lá, desnudo das lides mundanas, será pior.
Eu sei.
Eu semeei.
Terei a colheita.
Valha-me Deus!