SACERDOTISA
(acompanhado de jingoma*, mbwetete* e dança)
I
O tempo passou, a kijinga* está velha e nobre
No alto da montanha ocre
Ante os antepassados que lá permanecem
E o mbinga* ainda forte como nume tutelar
Evoca o novo clã de touros
A terra batida está estremecida
O céu também!
Em breve chegam as águias avermelhadas
E amareladas pelo sol poente
Em breve chegam os touros da montanha
E o sertanejo tocador de mbwetete!*
Ele será adornado de plumas das aves de rapina
Pele de leão e amuletos de kipa*
Pois hoje o pungwe* antecipa a chegada
Da lua, cor de leite!
II
E para onde foi a sacerdotisa tão desejada?
Onde a cabacinha do talismã sagrado?
Que o mundo acompanhe a voz dos antepassados
Que o mundo acompanhe a dança noturna
De máscaras indomáveis
Ali vem o clã de touros besuntados de takula*
Do outro lado vêm as águias esperadas
Já vem também a lua que se faz espírita
E a suma sacerdotisa, dançarina de mbwetete
Em vestes de lukanda
Para efetuar os homens em transe
E alimentar saudades de viver!
Jingoma = batuque, tambores
Mbwetete = instrumento musical
Kijinga = coroa de soba
Mbinga = pequeno chifre na coroa de soba
Kipa = troxinha de sortilégios mágicos
Pungwe = buzina de chifre de boi
Takula = serradura que se utiliza no besuntar do corpo com objetivo de se reverenciarem os espíritos
escrito em Kimbundu e traduzido para português pelo o autor.