Senhor da Piedade

Que festa é esta? Que fé tamanha?
Que nos faz voltar. A saudade é tanta,
que a nossa alma se levanta, e quer voar,
quer ir ao lugar onde o céu e a Terra parecem
se abraçar.

São os filhos voltando com o coração em festa.
Com a alegria na alma estampada.
Abraçar pais, irmãos e velhos amigos.
Voltar ao passado, à casa onde nasceram.
Rever os lugares onde se criaram.
E à festa do Senhor da Piedade
Se junta outra grande festa.
É festa! È festa! É festa!

Toda a vila se enfeita : enfeitam-se
As casas , as ruas, as praças, toda a
minha gente se enfeita e se põe à janela
para ver a alegria passar. E a natureza também
quer desta festa participar: o verde se torna mais
verde e a cor que em cada flor se faz fica mais
viva, mais linda por causa da alegria que
contagia o lugar.
É festa! É festa! É festa!

Os filhos voltaram, aos seus se juntaram,
e juntos de novo, vão acompanhar a procissão
e ouvir a banda tocar hinos de Amor e de Louvor
Ao Grande Senhor e agradecer com preces, com fé,
Com devoção, e cada oração tem bem lá no fundo
um amor profundo pelo Grande Senhor, que nos
momentos de dor os abraçou, os ajudou e, mesmo
da terra distantes, nunca os desamparou.

Há no mundo muitos Senhores: Senhor do Bonfim,
Dos Passos, da Ajuda, do Bom Sucesso e tantos outros.
Por que essa gente do extremo norte de Portugal
escolheu o Senhor da Piedade como o Senhor de sua
devoção? Deve ter sido alguém sofrido, desamparado,
roto, esfarrapado, sem eira nem beira, de tudo excluído.
Que num momento de extrema dor, gritou bem forte:
Piedade! Piedade! Piedade, Senhor!

Lita Moniz