A ESPERA
Não sei por que nem quando, mas...
De repente comecei a pensar mais seriamente na morte e estremeci.
Temi-a, então. .
Temi-a, porque tive a certeza incontestável de que ela virá.
Sim, ela virá e com ela o fim de tudo aqui:
Aspirações, amores, ódios, alegrias, tristezas e dores.
Não me atormentarão as angústias mais,
Os questionamentos imbecis e esta insatisfação que me deprime.
Não mais esta nostalgia doente de algo que não consigo entender,
Esta vontade incontida de chorar em momentos tão impróprios.
Será o fim, enfim, deste medo indefinível do nada, do tudo....
Temo-a...
Não pelo que é, nem pelo que virá depois,
Mas pela saudade que já começo a sentir dos que vou deixar,
Do que fiz e do que não fiz.
Temo-a, afinal, pelo abismo da separação.
Todavia, espero-a...
Não como se espera alguém importante, com festas e tudo,
Mas espero-a.
Espero-a e quando ela vier, não hei de lamentar, nem espernear, nem gritar...
Não chorarei e...
Como um bom menino que vai ao parque de diversões, acompanhá-la-ei.
M C. Sobrinho – Floripa, 1981
Percebemos a vida de forma distinta em cada momento de nossa caminhada e assim vamos nos construindo sujeitos de nossa história. Só somos o que somos, porque vivemos o que vivemos. Não raro dizemos para nós mesmos, que se tivéssemos a oportunidade de voltar a viver nossa vida desde o início, com a experiência que temos, por certo não cometeríamos as besteiras que cometemos. É... então não seríamos as pessoas que somos, com certeza. Seríamos melhores, ou piores, todavia jamais o que somos. Em cada momento de nossas vidas, acreditamos em coisas que, mais tarde, tornar-se-ão estranhas, até engraçadas e infantis. Os questionamentos existenciais que permearam minha infância, minha adolescência e minha juventude e que me angustiaram, por que não obtinha respostas, perderam-se nas brumas do tempo, já não têm mais a menor importância, deixaram de existir. No entanto, hoje, faço-me outras perguntas, pertinentes a este tempo em que vivo, cujas respostas já não serão relevantes daqui a uns poucos anos. Quando escrevi o poema acima, a vida era cheia de mistérios, a morte era um mistério. Minhas perguntas encontravam apenas o próprio eco. Hoje, escrevê-lo-ia de outra forma. A vida já não me assusta, muito menos a morte.
MC Sobrinho