ALMA MINHA

Singrando tão leve por sobre a ponte,

que liga o fértil campo dos sonhos,

nas lembranças do coração tristonho,

real e imaginário recriam o horizonte.

O real tem os pés descalços e pesados

da jornada doentia de eterno caminhar,

sem paradas na fresca sombra do jatobá,

ou alívio do peso nos ombros cansados.

Tem loucos olhos de assídua miragem,

chorosos, mas seguem sempre em frente,

desejando merecer da vida um presente

não a garupa suicida que aos fracos cabem.

Mas basta que os olhos num rápido cerrar

levem a débil alma para a criada trama,

e lhe calce os sofridos pés de verde grama

e deixe as alegres asas lhe arrebatar.

No imaginário mundo de coloridos ipês

doces frísias inebriam com seu incenso,

as almas gêmeas em enlace intenso,

vivendo o amor que o encarnar desfez.

É nessa campina de contentes amores

que minhas mãos te alcançam felizes!

Perdoando-te na matéria os deslizes

até que a eterna união nos cure as dores.