Um Dia 
Um dia, não sei qual era 
Cristo desceu à Terra. 
Não era mais um menino. 
Nem como nós peregrino. 

Veio ficar um pouquinho 
com os amigos de cá. 
Não veio para padecer. 
Nem por nossos pecados morrer. 

Veio só para nos ver. 
Também veio para ser, mesmo só 
por um instante, a nós semelhante. 
Olhar para nós e dizer: não estais sós. 

Também não veio para ensinar. 
Não veio para pregar nada, 
nem sequer deixar pegada. 
Se falou, foi com o olhar. 

Não veio apontar defeitos. 
Nem onde andamos a errar, 
e nem sequer perdoar. 
Veio só nos visitar. 

Nos olhava e o olhar dizia toda 
a dor que na alma lhe ia. 
Sofria por nos ver a sofrer. 
A morrer. 

É coisa para além de saudade. 
Quantos vasos ia encher a lava 
que jorrava daquele coração a 
derreter. 

Era dor de perceber que dois mil 
anos foram pouco, quase nada. 
Que a humana criatura voltou aos 
tempos jurássicos e ficou ali parada. 

E Cristo ali a ver isto. 
Doeu! Ai como doeu! 
Quem o viu bem percebeu. 
Veio humano, divino. 

Sua presença, um hino. 
Seu amor igual pelos reis, 
senhores da guerra, por todos 
os homens da Terra. 

Seus olhos, dois sóis a brilhar, 
a irradiar luz para todo o lado. 
Seu rosto iluminado. 
E se foi deixando ali parte de si. 

Lita Moniz