Beijo da Serpente
Boca de fel,
Toca-me,
Faça-me réu,
Prova-me.
Engole essa língua,
Crava suas presas,
Escorre o veneno da saliva,
Consome meu corpo, alcoviteira.
Despeja seu sabor ácido,
Drink de fermentação pútrida,
Balançar de frenesi extasiático,
Me entrego de forma litúrgica.
Chamam-na cobra,
Escarnecendo sua figura,
Demonizando suas sobras,
Levando-a, a sepultura.
Que eu morra contigo,
Nesse abraço que sufoca,
Quebrando ossos torcidos,
Minha estrutura entorta.
Serpente sedutora,
Me faça de sua Eva,
Me dê o fruto, vil enganadora,
Pro Inferno irei até o fim das Eras.
Medusa é sua concubina,
Troca essa pele que é vestimenta,
Lustrosa diamantina,
Rastejante tida por nojenta.
Asco eu dedico aos seus algozes,
Fascina-me com sua dança dionisíaca,
Sem flautas que te invoquem,
Rebola chacoalhando esses guizos com maestria.
Sua bocarra comporta-me todo,
Abre até me caber dentro,
Regurgita o esqueleto rançoso,
Só absorve o que lhe é de contento.
Typhon amada que me maltrata,
Rasga-me com dentes potentes,
Enterra na carne sua viril dentada,
Espalhando seu néctar mortal livremente.
Eterna ao se enrolar,
Ororboros mitológica,
Mágica criatura de arrepiar,
Criadora de histórias.
Ofidiana que embriaga,
Contaminando os tecidos,
Para alguns é anátema,
Eu aos seus pés reverencio.