Anjo Mórbido
Com suas ases de ave de rapina,
Seu vôo certeiro e assustador,
Os dedos com garras que mutila,
Faz manobras e provoca terror.
Seu olhar negro transmite a morte,
Petrifica quem contempla sua imagem,
Assalta de pânico o coração dos pobres,
Que se deparam com sua bestialidade.
Domina os céus e invoca tormentas,
Ao voar faz tornado com o vento,
Embaixo o público com medo lamenta,
Sabem que findou o seu tempo.
Sua voz é ensurdecedora,
Solta silvos horripilantes,
Sua voz é ameaçadora,
Faz abortar as gestantes.
Suas asas são pestilentas,
O que toca faz perecer,
Sua baba é ácida e gosmenta,
Faz o raio solar arrefecer.
As espécies reconhecem seu poder,
Afastam-se como se fugissem de um predador,
Muitos só de imaginá-lo hão de enlouquecer,
Penetra nos corações e faz germinar a dor.
No seu ventre estão enroladas duas serpentes,
Um caduceu maldito que nunca é expelido,
Seu sopro putrefato causa náusea em muita gente,
Seus dentes afiados destrincham cadáveres esquecidos.
Anjo da miséria que se vangloria com a derrota,
Caçador implacável de esperanças,
Predatório com a inocência que suplica, implora,
Fertilizando a sociedade com desavenças.
Invade os lares pelo incentivo dos moradores,
Corrompe laços e faz alianças odiosas,
Sua risada estremece os maiores lutadores,
Cria uma atmosfera pesada, raivosa.
As flores murcham com o rufar das asas,
A água dos rios se torna um esgoto,
Colheitas inteiras são devastadas,
Provoca em tudo que vive, desgosto.
Seu humor é sempre gélido,
A expressão facial rochosa,
Causa convicção mordaz nos céticos,
Faz escárnio diante de situação dolorosa.
Seus cabelos longos são repletos de vermes,
Exala um odor que faz o podre parecer doce fragrância,
A couraça que o envolve cria sofisticada epiderme,
Entre suas virtudes, a que não faz parte é a tolerância.
É estéril porque mata qualquer coisa que cria,
Mas consegue copular, matando quem se rende a sua luxúria,
Devorando a carcaça que recebeu seu sêmen de agonia,
Jamais renegando sua natureza que é profanamente telúrica.
E ei que surge sua oração,
Proferida pelos malditos,
Que em honra e adoração,
Pedem que apareça o destemido.
"Ó, Anjo Mórbido da Morte,
Venha com suas asas de fúria,
Conduza à desgraça a roleta da sorte,
Para os doentes seja a cruel cura.
Sua espada que é banhada em sangue,
Seja sempre erguida para ceifar cabeças,
Os mais covardes mortos num instante,
Que sua escuridão a todos entristeça.
Ó, Anjo Infernal da Desgraça,
Sirva-se desses que são seu pasto,
Que o coração corrompido seja sua morada,
Jamais retribuindo gentilezas por ser ingrato.
Produtor de defuntos,
Fortaleça-se com nossa penúria,
Amargure os chamados justos,
Ensina-nos o caminho da disputa."