O Cálice II
Me prostei com devoção,
Abri a boca para receber,
A oferenda eu senti na absorção,
Estava paralisado ao beber.
Senti o néctar invadir meu corpo,
Aquel líquido sagrado me abastecia,
Fui alimentado por algo aquoso,
Cada partícula a meu ser agregava, invadia.
O cálice me foi revelado,
Sua forma era encantadora,
Adentrei o mistério inusitado,
Sua presença era consoladora.
Desde tempos primevos,
Cultuado por diversos grupos,
Eu não seria o primeiro,
Mas me sentia como único.
Seu sentido da vida é notório,
Carrega no íntimo nossa espécie,
Sua doçura tem ar conciliatório,
O seu gosto facilmente entorpece.
Vulva divinizada, bebo de ti,
Abro seus pelos púbicos,
Mesmo sem cabelos para cobrir,
Sou seu devotado súdito.
Abra-se fenda magnífica,
Exponha o feminino santificado,
Não importa se a chamam vagina,
É recepiente buscando ser explorado.
Abra as pernas deusa antiga,
Escorrendo em meus lábios,
Que seu gozo me transmita,
A ciência de um natural atávico.
Suas coxas como montes titânicos,
Abrindo este Vale Perdido,
Sua fonte fluindo feito manancial messiânico,
Transbordando gemidos.
Sua torrente de secreções,
Cachoeiras maternais,
Ornamentando estações,
Criando ciclos vitais.
Seus fluídos são oceânicos,
Cascateia sobre minha fronte,
Lava-me nesse diluído fenômeno,
Faça-me navegar, feito seu Caronte.
Mude sua estrutura,
Torne-se Rio Vermelho,
Sei que sua taça menstrua,
E assim me banqueteio.
Mostre seu lado Sekmeth, leoa enfurecida,
O nascimento sanguinolento,
Do não-nascido, o gosto forte que aterroriza,
Esse é o sacrifício do rebento.
Ritvs eram vivenciados,
Agora nesse ritual me inicio,
A ti ofereço meu falo,
Vamos iniciar abrindo junto o círculo.