Eu Pequei

A noite chegava mansamente,

A igreja contendo os fiéis costumeiros,

Mas muitos se retiraram tardiamente,

Era um dia de cultos mais longevos.

Ao adentrar aquela cúpula,

Contemplei as figuras,

Ums cortinas de cor púrpura,

O atmosfera era taciturna.

As imagens enfeitavam o interior,

Olhei para a magnífica nave,

As velas iluminavam do altar até o corredor,

Tudo parecia ter um ar grave.

Apesar do horário impróprio,

Fui até o confessionário,

Aguardei com recatados modos,

Até ser percebido por um vigário.

Pediu que eu me retirasse,

Mas logo se deslumbrou com meus olhos,

Dirigiu-se diretamente ao padre,

Que acabara de chegar de um encontro católico.

O sacerdote demonstoru piedade,

Disse que pela hora, deveria ser urgente,

Logo caminhou para mim com dignidade,

Fazendo um gesto muito delicadamente.

Cada um ocupando sua parte,

A divisória transforma nossas faces,

Em mosaicos nque serviam de disface,

Logo começamos a ter certa reciprocidade.

A voz do ancião saiu de forma cautelosa:

- O que deseja meu filho?

Respondi com uma tonalidade vigorosa:

- Venho confessar, amigo!

Comecei dizendo que havia cometido crimes,

Matara pessoas mas sem arrependimento,

Mas é algo que faz parte de minha natureza, eu disse,

Proporcionei às pessoas outros tantos tormentos.

O idoso me pedia calma,

Dizia-me para ter consolação em Deus,

Não existe grave falta,

Que não possa ser perdoada, nem sendo ateu.

Nessa hora expus minha descrença,

Realmente não concebia algo divino,

Imaginava a religião como doença,

Os padres uns bebedores de vinho.

Mas então, o velhote indagou:

- Se falta fé, o que fazes aqui?

E com um sorriso me escapou:

- Pecar de novo, assim resolvi.

O padre fitou meu olhar tenebroso,

Li em sua mente que tentaria escapar,

Mas num relance e eu mordi seu pescoço,

Entrei rápido sem que pudesse gritar.

Suguei cada gota daquele sangue vivo,

Batizado pelas hósitas sagradas,

Nada como beber desse simulacro de Cristo,

Me inebriei com profundas goladas.

Toda aquela torrente de pensamentos,

Desde á visita ao Vaticano,

Até o último encontro e os sacramentos,

Sequei seu corpo como num encanto.

Logo o coração viria a parar,

Deixei o cadáver deitado,

Do sacristão me servi no altar,

Seu sangue era mais coalhado.

Ninguém mais me vira,

Estava satisfeito com o alimento,

Uma última olhada para a sacristia,

E fui saindo sem perder tempo.

Ao sair fiz um sinal da cruz em tom de escárnio,

Um sorriso ao olhar a imagem de Jesus crucificado,

Pensei que se existisse esse messias sagrado,

Queria eu mesmo beber-lhe o sangue depois de rasgá-lo.