O Abraço

Momento único de uma vida,

Ou será que devo dizer pós-morte,

Numa surpresa em que logo sentia,

A transformação que mudaria minha sorte.

Numa noite fantasmagórica,

Caminhando por ruas nebulosas.

Em uma época remota da história,

Tomado por presas famintas, gulosas.

Andava seguro de minha condição,

Prestador de um culto a antigos deuses,

Fui percebido por uma ssombração,

Que me tomou entre meus afazeres.

Surpreendido num ambiente frio,

Aqueles olhos brilhavam,

Parecia visão de um dos grandes felinos,

Órbitas que me aterrorizavam.

Sabia na hora que estava diante da morte,

Ali se daria meu destino, de forma trágica,

Me dei conta de minha condição de fantoche,

Manipulado por aquele ser de expressão tácita.

Era apaixonante a figura magnífica,

O corpo escultural de um deus vivo,

Meu coração acelerou de forma rítmica,

Quase chorei perante meu inimigo.

Minha mente foi invadida,

Adentrava meus pensamentos,

Comunicava o que lhe convinha,

Dizendo que chegara o meu momento.

Numa velocidade surpreendente,

Flutuando no ar com seu corpo fenomenal,

Com leve gesto fez meu pescoço curva levemente,

Cravando suas presas de forma letal.

A dor percorreu cada parte da minha carne,

Somada ao pânico de ser devorado,

Sugado feito uma guloseima, até que o algoz se farte,

Tortura de segundos que deixa o tempo paralizado.

Engoli o grito que me sufocava,

Junto com o fluxo de sangue que corria,

Parecia ter a sua alma também arrancada,

Era um prazer no qual também sofria.

Foi largado feito uma presa abatida,

A mão tocava os ferimentos no pescoço,

Sabia que dali sua vida se escoaria,

Logo não passaria de um homem morto.

Uma onda de lembranças surgiram,

Dizem que próximo a morte acontece,

Suas memórias de infância eclodiam,

A angústia mesmo assim não arrefece.

Perdeu o sentido temporal,

Não sabia o tanto que ficou naquele limbo,

Pedia para morrer, era algo natural,

O desespero havia, por inteiro, me possuído.

Fui estremecido por aquela voz,

Nos escritos religiosos li, que no príncipio,

O verbo que agia e que a tudo constrói,

Eu também fui criado assim, esse foi meu início.

Aquele que tive por mestre,

Me beijou os lábios com doçura,

Sua língua parecia uma prece,

Tornando as feridas, pequeninas fissuras.

Foi quando me concedeu o chamado "abraço",

Rompendo seu pulso e ma fazendo beber,

Daquele fluxo sanguíneo que tomei ávido,

Transbordando excitantemente em meu ser.

Num instante seguinte tive as entranhas reviradas,

A agonia tomou conta, como se morresse pra dentro,

O corpo se contraiu em uma violência espamódica,

Deseja me rasgar para cessar aquele pavoroso tormento.

Acordei logo após tal assombro,

Contemplando o mundo com olhar diferente,

O mundo se tornou um verdadeiro sonho,

Onde dominava cada centímetro do ambiente.

Adentrei a um pesadelo vivido,

Nele eu era o protagonista,

Ser noturno de um mundo terrível,

Alimentando-se de humanas vítimas.