Hierofante

Iniciado nos sublimes mistérios,

Revelações que servirão aos neófitos,

Alcançou uma grandeza pelo próprio mérito,

Agora é respeitado pelos distantes e próximos.

Compreendeu a grandiosiade do simples,

Adentrou o campo da complexidade,

À natureza uniu-se, tornando-se símile,

Redescobriu o sentido íntimo da humanidade.

Como eremita se embrenhou na solidão,

Desvencilhando-se de apegos, feito um Zaratustra,

Teve como apanágio a mais dedicada resignação,

Livrando-se de prisões cotidianas com sábia astúcia.

Percorreu um caminho esotérico,

O Tarot, ou seja, O Caminho,

Essa seria sua Rota ou Lei, Tora, apenas dialetos,

Nunca foi dado a premeditado destino.

Com as Runas sob o solo estático,

Vislumbrava o monumental impensado,

Revelação que deixavam-no extasiado,

A mente cria as fórmulas com sentido racional adulterado.

Provou o cálice rochoso onde brotam nascentes,

Água cristalina que reflete teu ser,

Fonte de banho natural para batizar o ascendente,

Regato sublime que do Macro tem de proceder.

Em meio aos outros animais,

Sente a analogia de sua natureza selvagem,

Tem os totens como legítimos ancestrais,

É fruto não de uma, mas de diversas realidades.

Invoca a botânica mais mística,

O Xamanismo nele desperta,

Suas questões eram corriqueiramente típicas,

Mas sua causa emociona por ser sincera.

Conseguiu se auto-sustentar,

Extrai o que precisa sem degradar,

Um exemplo que poucos irão copiar,

Mas que terá efeitos que não poderão calcular.

Soube como entorpecer a mente,

Deixara a loucura mais singela se libertar,

Alguns o internariam como dependente,

Os de percepção sensível saberiam admirar.

Mais do que a essência captada,

Serviu-se da composição orgânica como alimento,

Provou tanto a carne crua, ensanguentada,

Quanto os brotos mais tenros que cultivou por provento.

Privou-se dos prazeres libidinosos,

Em alguns tempos resolveu o desejo sozinho,

Em outros, teve amantes de corpos fogosos,

Indo de um extremo a outro sem desalinho.

Combateu as aflições de ordem psicológica,

Defrontou as neuroses mais mordazes,

Mergulhou no insconsciente e reviu sua história,

Tornando-se em matéria de mentalidade, dos mais sagazes.

Na ingenuidade infantil explorou efeitos,

A gana e veracidade que impele a vontade,

Os medos mais tolos que servem de freios,

A exaltação de si mesmo por fortaleza, valor da vaidade.

Comandante das regras que o próprio criou,

Mesmo parecendo subserviente, estratégia sutil,

Recuar e submeter-se por assim desejar, desse jeito jogou,

Aproveitando minucioso detalhe, que outros tiveram por inútil.

Socializou-se de forma meticulosa,

Estrategista dos mais desenvoltos,

Em meio à outrem fez escola talentosa,

Nunca tido como falsário, mas sim um político douto.

Célebre narrador de histórias fantásticas,

Atraía a atenção alheia com facilidade,

Sabia dar forma ao conto com verossimilhança dramática,

Tocando os corações mais secos com docilidade.

Na alquimia aprendeu o sentido elemental,

Concluindo também ser composto dele,

Ligado ao que existe de mais substancial,

Não estava tão deslocado, pode perceber.

Abaixo do céu voltou a face pra cima,

Conheceu os astros, se encantou

Pelos estudos mais eruditos da astrologia,

O Cosmos a ele se revelou.

O corpo deste descobridor se tornou seu templo,

Marcado pelo empirismo que vivencia,

Harmonioso em relação a seu aliado, o tempo,

Progredindo a seu ideal de ataraxia.

Dedicado aos rituais soberanos,

Aqueles minuciosamente elaborados,

E os não menos importantes cotidianos,

Formando um proceder sistematizado.

Os sons tomaram formas,

Um balé incompreensível aos circundantes,

Em tal estado é preciso atuar,

Não mais esquivando-se das próprias responsabilidades.

Ao tentar desintegrar, se reintegrou,

Assumido como uma fundamental parte,

Ao transformar a si, o restante transformou,

Essa é a Poiesis, a mais esplendorosa arte.

Ao que é do mundo, não sente desconforto,

Também faz parte desta composição,

Um dia irá se decompor enquanto corpo,

Liquefazendo em oferenda telúrica em forma de unção.

Jamais profetizou, por acreditar isso uma ingenuidade,

Mas se deliciou com o que acreditou ser palpável,

Foi admoestado por uma falsa credulidade,

Se apegou ao que é efêmero, tendo-o por útil relicário.

Hoje buscam-no como refúgio,

O homem comum e cheio de tormentos outrora,

Agora é tido como dominante de subterfúgios,

Reverenciado pelo ensinamento que apriora.

Quando procurado e questionado,

Soube apenas comentar de si,

Nunca se apresentou como bem estudado,

Um experienciador raro do que se pode sentir.

Uma vez perguntaram sobre a falta de um séquito,

Foi categórico em sua exposição,

Em relação aos grupos de seguidores sou cético,

Reverenciem a si, essa é a grande lição.

Sobre as dúvidas mais obscuras humanas,

Pensa permanecerem no campo da idealização impensada,

Cair em sofismas somente renderá infrutíferas campanhas,

Melhor aproveitar o momento intensamente, talvez a opção mais acertada.

Saber mais sobre este sujeito só fomentará uma biografia,

Permitam-se conhecer além das palavras descritivas,

Nos conhecermos é complexo, conhecer ao outro é aporia,

O sentido da vida é jamais compreendê-la, somente senti-la.