DIA DE FINADOS

O primeiro dos meus mortos

foi minha avó Joana.

A primeira que eu vi de olhos definitivamente fechados

a me mostrar, ainda menino,

toda a fragilidade da nossa dimensão humana.

Outros tantos vieram depois:

O meu tio Waldemar,

de quem peguei escondido dois ou três cigarros;

Dona Darcília, um simples vizinha,

Germana, prima velha de meu pai

que o tempo quase me fez esquecer.

Hoje, conto-os aos milhares,

Pois, morrer é destino

que o corpo carrega desde que nasce,

e mesmo enquanto crescer parece,

é da partida que está a se aproximar.

Seria bem triste a vida

se apenas esse fosse o nosso futuro,

se a morte fosse o fim total da lida,

erguendo-se intransponível diante de cada um de nós,

feito um muro,

legando à alma o vazio e o escuro,

depois de deixar a existência querida

como um perengrino sem estalagem ou amparo.

Ó dúvida secular!

Ó maldição concebida pelas trevas da ignorância

e por legiões de interesses espúrios!

Ó mentira, ó pérfida infâmia,

aquela que decretou que a alma

a outro corpo não poderia retornar.

Mentira que, ao mundo, trouxe toda a sorte de desatinos,

matando a esperança, estraçalhando a alegria,

até que o Espiritismos, de novo fez a luz brilhar,

recordandos aos povos: da alma, a imortalidade.

Concessão bendita do pai por muito nos amar.

Infinita e misericordiosa possibilidade

de sempre, sempre, recomeçar.

- em 02/11/2008 -

jlsantos
Enviado por jlsantos em 02/11/2008
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