A mim nada me basta
A mim nada me basta
Não me basta ver o céu
As estrelas
E pensar nos abismo do mar
Não me basta
A mim nada me basta
Eu sempre quero mais
E é nisso que teimo em pecar
Querer o que não posso
Querer o que não existe
Querer o que nunca vou ter
Mas a mim
Nada me basta
Não me abasta apenas ver
Tenho que tocar
Tenho que sentir
Sentir até o ritmo mais agudo
Do sofrer!
A mim nada me basta
Nunca estou em conformação
Não tenho sorrisos
Nem esperanças
Apesar de viver de esperar
Ser a minha destinação...
A mim nada me basta
Qualquer coisa de mágico
Tenho sempre que tocar
Que encontrar
Onde quer que seja
A magia
É o moto do meu olhar
E transformo tudo para onde olho
Submeto-me a todo e qualquer experimento
Não me importa se corro
Perigo
Não me importa o esquecimento
O julgo do destino
É meu principal alimento
E aos amigos
Que baixam a vista para não me verem
Eu deixo meu largo abraço
E me esforço
Para não os envolver
Nisso que já me dilacerou
Que me vazou os olhos antigos
Por outra forma é que posso ver
E se as cores do mundo
Não se mostram mais a mim
E se os odores do mundo
Não se mostram mais a mim
Eu posso imaginá-los a todos
Num reboliço sem fim
E inventar outras cores
Outros perfumes
Para satisfazer o meu ser...
Mas isso não me basta
A mim nada me basta
Eu mesmo não posso me conter
Não sou eu que me vejo no espelho
O espelho é limitado de mais
Para me caber
Eu sou mais que tudo isso
Mais que o que possa conhecer
Mas saber disso
Não me basta
A mim nada me basta
Não me basta conhecer
Nem entender
Ou compreender
Há coisa que não tem nome
Há sentimentos intraduzíveis
Que convivem comigo
De e noite, noite e dia
Do amanhecer ao anoitecer
Varando a madrugada
Eu deitando numa estrada
Esperando alguma coisa acontecer
Mas não acontecer
O que possa imaginar
Outras coisas existem
Na substancia do nada
Alem dessa estrada
Que fica bem mais larga
Durante a noite
Quando se parece não haver
Ninguém para nela andar...
A mim nada me basta
Não me basta o frio
Que invade meu coração
Nem as estrelas que vem do céu
Com seu brilho de ofuscação
Eu vejo tudo nítido
E a nitidez não me basta
Compraz-me mais a escuridão
Por que há segredos nela,
Mas, mais segredos há
Dentro do meu coração,
E são eles os motores do meu viver
O quebra-cabeça que gosto de montar
Uma peça aqui outra ali
Mais uma acolá
Mas são infinitas peças
A cada dia que se vive
Mais complexos
Fica o desenho
A forma que jamais vai se mostrar
Mas isso não me basta
Não me basta saber
Que eu nunca vou saber
Do que é que estou sempre a falar
Do que é que sempre invade a minha mente
E me deixa assim descontente
Com tudo que posso enxergar
A mim nada me basta
Não me basta o amor
Que possa me oferecer
Desejaria mais que pudesse
Num golpe de olhar
Desvendar-me
E pensar junto comigo
Aquilo em que não posso para de pensar
Isso que carrego comigo
Isso que é muito, muito antigo
Que é de beleza extrema
Apesar de nunca se mostrar,
Isso que não pode ser entendido
Isso que jamais vai morrer
Isso que pode fazer o sol surgir de repente
Numa madrugada
Ou parar de chover
E secar os rios e mares
Como que fosse mágica
Como que fosse força
Mais poderosa que os eternos
Furacões existentes em muitos planetas
Que giram em torno de estrelas
Muito, muito maiores que esse sol
Que nos alumia o dia!
Mas saber disso não me basta
Adentro-me na matéria escura
Sinto que sou da mesma natureza
Um pedaço dela vive dentro de mim
A me queima durante a Ventura
E vai continua ainda
Quando eu não mais puder
Ver esse ser que se olhar no espelho
Querendo que eu o seja
Tendo consciência de mim
E de tudo que me enseja...
Essa prisão
Não pode me conter
Um dia vou me desprender
E isso vai ser apenas o começo
Da desmistificação dessas coisas sem nome
Que rondam e consomem as energias
Tão parcas energias
Fugidias
Alegrias
Sono
Sonho
Dentro do qual estou...