Todo o meu amor...

Estive ausente minha querida

Por muito tempo andei perdido

Cheio de medo, de inseguranças

Com o peito cheio de vazios

Não sabia contemplar as nuvens

E colher do céu o orvalho da esperança

Demorei muito andando sozinho

Perdi-me em tenebrosos labirintos

A aprendizagem se faz o tempo todo

De quedas, olhos vazados por espinhos

Mas agora, meu coração tão amargurado

Ouvi de longe o seu grito por mim

E eu deixarei os claustros e irei para ti

Nós precisamos nos encontrar

E conversar um pouco

Nos olhar nos olhos

E deixar as lágrimas cair

Lavar as nossas almas

E nos encarar face a face

Nossos rostos caiados

Afinar os corações separados

Que há muito deixaram de sorrir

Precisamos fazer esse esforço

Porque o tempo nos diz o limite

E qualquer vacilo pode estragar

Esse momento de nos entendermos

De dizer o quanto nos amamos,

E por que esse amor nos fez assim

Seres fragilizados

Abandonados a própria sorte

A mirar os Longes

A sonhar os sonhos

De impossível beleza

De impossível realização

A dor nos assomou muito cedo

Sete não é um numero grande

Mas a estrada se abriu

A noite me engoliu

E eu nunca mais voltei

Eu sei

Que deveria ter mandado notícias

Mas é tão tarde

Para nos justificar

Deixa-me eu lavar seus pés

Deixa eu vos falar do que aprendi

Não tenha medo nessa hora medonha

Eu vou vos contar umas coisas

Umas histórias que aprendi

Umas teorias que andei lendo

Umas lendas que andei ouvindo

Umas paisagens que andei contemplando

Deixa eu vos mostrar

As belezas que colhi enquanto andava

Enquanto a saudade me apertava

O coração

E as desilusões iam se acumulando

Dentro desse coração

Que tanto soube sorver os carinhos seus

Ah, como seria bom se tivéssemos mais tempo

Como seria bom

Como seria a nossa vida se ela começasse agora

Eu depois de andar tanto sob o sol

Buscando o caminho

Aprendendo a ser sozinho

Aprendendo a não desesperar

Aprendendo a esperar

Aprendendo a não me justificar com o tempo

Eu agora poderia ser-vos mais útil

E dividir convosco

Os tesouros que andei juntando

Formas brancas em fundo azul

Fogo

Flores que virgilhei o desabrochar

Tudo eu guardei

Considerei jeitos de olhar

Aprendi tanto

Durante esse tempo

Talvez perdido

Talvez que me fez atrasar

Talvez que denote o meu egoísmo

E o meu medo

De viver perto de vós

De assumir o tremendo amor

Que me fez vos levar

Dentro do coração do meu coração

O mesmo que se fazia canção

Quando eu sentia vontade de chorar

Talvez tivesse sido melhor

Eu nunca ter-me ido

E ter aprendido

Em vez das coisas do mundo

Das vozes dos rios

Dos silêncios de lagos vulcânicos

Do lacrimejar dos olhos das pessoas

Em momento de grande tristeza

De despedida

De partida

De perdidas

Talvez tivesse sido melhor

Eu ter ficado

E tentando aprender

A vos entender

E dizer naturalmente

Quando sou grato

Por ter feito tudo que fez comigo

Os beijos e os castigos

Tudo

Eu não poderia entender

Que tudo que foi por mim

Por isso naquele entardecer

No morrer do dia

A noite me engoliu

E a vida me deglutiu

E agora

Do excremento que por muito

Tempo passei sendo

Vivendo e morrendo

Trago-vos essa flor

Da planta cujas raízes estão

Nas profundezas do meu coração

E a entregar a vós

Saiba que não apenas quero

Dizer que te amo

Mas que ela é toda a essência do que sou

Todo o meu amor...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 20/04/2008
Código do texto: T954627
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.