RESILIÊNCIA

Sou triste, porque na Tristeza

há uma beleza intrínseca,

indescritível, impronunciável

Porque na mortandade melancólica dos dias cinzentos

Há um saber que se expande e se contrai, como o ventre próximo à hora derradeira da concepção

E mediante as primeiras dores do parto, à luz de um querer que se exprime velozmente pela fiação cognitiva do ser,

Gero dentro de mim, com a mesma intensidade, com tamanha precisão, alguém que está além de mim

Um simulacro de existência que transcende todo querer próprio, toda experiência vivida, e o aprendizado subentendido, desenvolvido

Não sou mais eu naquele espaço, naquele tempo

Mas o adendo de uma criatura capaz de superar o criador e, ainda assim, coexistir pacificamente

Apesar de todo desânimo, de todo desalento herdados

Como um raio de sol tímido no entardecer, após a fúria pluvial

Como os primeiros brotos a enfrentarem a dureza gélida após invernos rigorosos

Lutando pelo tempo, através do tempo e não contra ele

Dia após dia, noite após noite

Numa reconciliação espiritual, num nirvana atemporal

Com deuses ou sem eles, naturalmente ou na paranormalidade do que não se pode compreender

Diante da realidade que se extingue com o roteiro da vida...

08/06/2019

Poema publicado em:

PUPO, Fábio Henrique. et al. "Verso & Prosa: Projeto Poesia na Escola". 6.ª ed. Brodowski: Editora Palavra é Arte, 2021.

F H Pupo
Enviado por F H Pupo em 15/03/2025
Reeditado em 22/03/2025
Código do texto: T8286397
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