FAIZ DE CONTA
FAIZ DE CONTA – Poema Matuto
Já passei tudo na vida, penei cum fríi e calô.
Tanto, sufrí mode amô, qui fiquei c’a mente tonta.
Prá num prossiguí sofrendo e isquecê quaiqué probrema,
nuis verso do meu poema, vô brincá de faiz de conta.
Faiz de conta qui sô jove, que sô um cabra abastado,
que nunca fui disprezado, nem humiado, jamais.
Que tenho munta saúde, que vivo a vida surrindo,
qui acho o mundo intêro lindo, qu’inda tão vivo, uis meus pais.
Qui nunca tive probrema, num sufrí derna de môço,
num fui inté o fundo do pôço, nem à sua lama, tombém.
Qui nada perdí na vida, num me faiz farta o passado,
que àis fera, eu num fui jogado, qui nunca ofindí ninguém.
Faiz de conta qui na vida, eu tenho munto sucesso,
e qui a palavra progresso, véve no meu dia a dia.
Qui sô um poeta famoso, vendo livro de muntão,
qui toda a população, gosta da minha poesia.
Faiz de conta qui eu num sinto, sua farta noite e dia,
prá dividí u’alegria, ô mermo uma decepção.
Qui muntas vêiz, ricuído, lá na casa adonde moro,
lá no meu quarto eu num choro, cum sodade do sertão.
Faiz de conta qui eu num finjo, qui sô feliz e contente,
qui numa murtidão de gente, num incronto a solidão.
Qui a sua indiferença, a farta do seu caríin,
num coloca in disalíin, êsse meu véi coração.
Faiz de conta qui eu sô, prá você é um bom sujeito.
Do lado esquerdo, in seu peito, sô sua prioridade.
Qui tudo o qui você faiz, me tem cumo objetivo,
qui a surrí p’ro mundo eu vivo, chêíin de felicidade...
Autor: Bob Motta.
Academia de Trovas do Rio Grande do Norte
União Brasileira de Trovadores-UBT-RN
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte