A Hipnose dos Dias
Quando eu era pequeno
Minha mãe me dizia que o mundo era vil
Mas eu estava tão encantado com a possibilidade de viver
Que nem percebi que a vida passava a cada instante
Hoje olhei no espelho
E não vi mais o sorriso
Do menino matreiro de outrora
Minha face estava marcada com desilusões
Passou e eu nem vi
O conto ligeiro do salmista
Para onde foram os meus dias na capital da província?
Os dias do circo na cidade que fui ao norte?
A felicidade da casa azul no interior?
Se me serve o conforto
Estão guardados em minha mente
E me dizem pra eu não sofrer por isso
Ainda espero o dia que saudade seja
Algo que me cause risadas
Que tu possas ser feliz pelo que és
E não pela certeza tão incerta
Da proximidade com todas as possibilidades
E gozos que duram poucos segundos
Pois o presente é um lugar que não existe
O que existe é uma ideia do presente
Como navalha do habilidoso barbeiro
Ele separa os pelos do ontem
Mostrando a brancura da pele do amanhã
Não como uma coisa ou um momento
Mas apenas como a subjetividade a emoldurar sofrimentos