Útimo Sonho
Num leve sonho
Um torpe abraço
Minha alma foge
E perde-se num breve espaço
Onde tudo dança
Ao meu redor
E, numa última dança
Meu último respirar de dor
Assim vão me cercando
Com sua nobre dança, todas elas
Encantadas borboletas belas
Reanimando ainda meu olhar
Meu último abrir de olhos
É o último bater das asas
Da borboleta mais solitária
Que dança triste em volta de mim...
As borboletas, todas elas
Todas belas, multicor
Trazem-me alguma coisa
Algo de sono, algo de dor
Uma alegria terna
A última chama da vela
Que iluminou um momento de amor
Me trás, par em par, asas de borboleta amarela
Quando a dor me toma
Num momento de caos
Vem a mim uma esperança
Nas verdes asas, picadas por um espinho tal
Como flor que desabrocha
E, colhida, deixa um jardim
Nas belas asas flutuantes e roxas
Desperta a saudade dentro de mim
Diante dessa morte
Gelada por dentro, no frio do vento-norte
Resigno-me, esperando que ela venha
Vislumbro insigne tristeza, planando nas asas da borboleta preta
Mas com o amor da vida
Desejo que tu, querido, meu túmulo cubras
E, lá, tranqüila e abrasadora
Abençoa a graça singela da borboleta rubra
Tu, querido
Não te culpes, não se faça alma pesarosa
Se acaso sentires saudades minhas
Terás consolo na borboleta rosa
A melancolia tomou o mar
Tendo a escura noite a cobri-lo
Paira no triste raio de luar
Algo deixado pelas asas de uma borboleta azul que ainda cintila
Porém, misto de cores
Minha própria liberdade me ata
Estou perdida em dores
Como a triste borboleta prata
Assim, pequenina e solitária
Lastimosa de seu fim
Suspirará pela última vez comigo
Dormirá dentro de mim...