Útimo Sonho

Num leve sonho

Um torpe abraço

Minha alma foge

E perde-se num breve espaço

Onde tudo dança

Ao meu redor

E, numa última dança

Meu último respirar de dor

Assim vão me cercando

Com sua nobre dança, todas elas

Encantadas borboletas belas

Reanimando ainda meu olhar

Meu último abrir de olhos

É o último bater das asas

Da borboleta mais solitária

Que dança triste em volta de mim...

As borboletas, todas elas

Todas belas, multicor

Trazem-me alguma coisa

Algo de sono, algo de dor

Uma alegria terna

A última chama da vela

Que iluminou um momento de amor

Me trás, par em par, asas de borboleta amarela

Quando a dor me toma

Num momento de caos

Vem a mim uma esperança

Nas verdes asas, picadas por um espinho tal

Como flor que desabrocha

E, colhida, deixa um jardim

Nas belas asas flutuantes e roxas

Desperta a saudade dentro de mim

Diante dessa morte

Gelada por dentro, no frio do vento-norte

Resigno-me, esperando que ela venha

Vislumbro insigne tristeza, planando nas asas da borboleta preta

Mas com o amor da vida

Desejo que tu, querido, meu túmulo cubras

E, lá, tranqüila e abrasadora

Abençoa a graça singela da borboleta rubra

Tu, querido

Não te culpes, não se faça alma pesarosa

Se acaso sentires saudades minhas

Terás consolo na borboleta rosa

A melancolia tomou o mar

Tendo a escura noite a cobri-lo

Paira no triste raio de luar

Algo deixado pelas asas de uma borboleta azul que ainda cintila

Porém, misto de cores

Minha própria liberdade me ata

Estou perdida em dores

Como a triste borboleta prata

Assim, pequenina e solitária

Lastimosa de seu fim

Suspirará pela última vez comigo

Dormirá dentro de mim...

Ana Pismel
Enviado por Ana Pismel em 14/11/2007
Código do texto: T737231