Fizeram-me uma vez a pergunta que seja, talvez, a mais complicada de ser respondida. O motivo pelo qual escrevo não me parece tão claro agora, apesar de ser mais palpável quando não penso nele. Posso dizer, porém, que escrevo lembranças, vividas ou não; diálogos, pronunciados ou imaginários; poesia, sublime ou decadente... O que resta ao final de tudo isso são linhas de amor, desolação, humor, até mesmo de meras trivialidades – não por isso menores ou banais. Tantas vezes nos deparamos com situações simples, e elas plantam em nosso interior sentimentos elevados, nos cabendo apenas saber observar.
Ainda mais importante que o que escrevo, são os sentimentos que imagino despertar nas pessoas que lerem meus poemas, contos, crônicas, etc. Quando penso que cada leitor terá contato com as mesmas palavras e, no entanto, as sentirá de uma forma diferente dos demais, me dou conta de que a bagagem de vida, experiências e sentimentos de cada ser é tão ou mais importante que o próprio escrito. Que coisa fascinante. Como diria José Saramago: “dentro cada um de nós é um pequeno universo”. Realmente, há partes nossas que conseguem ser únicas, mesmo tendo tanto em comum com as pessoas ao nosso redor. Creio que levo isso em conta ao escrever (ao menos na maioria das vezes).
Quanto ao motivo em si, há tantos quantos se podem conceber. Ele muda, transforma-se, á medida que eu própria mudo. Mas de modo geral, ao escrever, penso na transformação que se passará nos leitores, dependendo do quero operar no interior de cada um. Por mais que o ato de escrever seja, por si mesmo, solitário, não teria sentido se fosse estéril a ponto de isolar-se e não dar frutos. Por isso, sempre que escrevo algo, por mais subjetivo que possa parecer, tem como fim encontrar um eco na alma daquele que ler.
Enfim, como pequenas coisas podem mover montanhas, acredito que mesmo sendo tão pequeno, esse texto valha para revelar um pouco do que se refere à maneira de como eu lido com o “escrever”.