Depressão & Poesia
Depressão & Poesia
Eu cortei os meus pulsos
E o sangue que jorrava dos meus punhos
Transformavam-se em lágrimas
Estas lágrimas afogaram o meu coração
E aquele corpo gélido no fundo da banheira
Poeticamente abraçava a solidão
Meus olhos sem vida esbanjavam felicidade
Enquanto as minhas mãos tremulas
Desesperadamente tentavam alcançar a luz
Meu corpo debatia-se em desespero
Seria esta a sensação do arrependimento?
Mas já era tarde demais (...)
O barulho da música no último volume
Impedia que escutassem os gritos de desespero daquela alma
Que há muito tempo condenou-se ao seu próprio abismo
Parece que agora meus movimentos cessaram
Mas ainda sinto as lágrimas caindo dos meus olhos
O que eu fiz?
Diziam as vozes na minha mente
Elas agora estão se calando para sempre
Sinto o meu corpo afundando na banheira
O gosto da água repleta de sangue
Tocando os meus lábios
Eu disse que a amaria para sempre
Que teríamos duas filhas
Quem diria que a eternidade
Terminaria em uma banheira cheia de sangue?
Os meus olhos embaçados
Tentam com todas as forças
Gritar com a alma
Que eu estou arrependido
Mas que a dor foi embora
E eu não quero mais viver (...)
O meu corpo gélido
Tenta reagir as minhas emoções
Enquanto a água cobre o meu rosto
Sublime como o nosso primeiro beijo
Intenso como cada uma das nossas fodas
Partirei deste mundo
Sem dizer que te amo
Pela ultima vez
Há uma sádica ironia na depressão
Não importa o quão bem você esteja
Não importam os seus sorrisos, suas crenças
Ou as suas incansáveis noites em alas psiquiátricas
No fundo dos nossos olhos
No recanto mais sombrio das nossas almas
Reside um desejo
Como uma Poesia a ser escrita
Por cegos ou moribundos
Este desejo nos persegue em nossos sonhos
Nas nossas lágrimas
Até que um dia como uma assombração
Que se espreita pelos cômodos da casa
Nós cedemos aos seus desejos
Suas impurezas parecem limpar a nossa alma
De uma angustia que nos mata
E nos assombra pouco a pouco
Desde o dia em que fomos condenados
A este hospício que chamamos vulgarmente de vida
Eu me entreguei aos meus desejos mais impuros
Partirei deste mundo
Como a sublime estrela da manhã
Ao iluminar a escuridão da minha alma
- Gerson De Rodrigues