Poema – Inevitável anoitecer
Poema – Inevitável anoitecer
Foi um beijo seco
E um abraço frio
Ambos sabíamos que eram os últimos
Ela se virou para ir embora
Senti o seu cheiro pela ultima vez
Eram como rosas e lírios em um jardim agridoce
Aonde os anjos cantam e dançam
Voltei para casa as dezoito horas e vinte cinco minutos
(Meu cachorro pulando de alegria)
Me recebeu com o seu amor inocente e focinhos gelados
O peguei no colo como de costume enquanto
Ele se debatia em felicidade e euforia
Talvez eu devesse me despedir
Abraça-lo com mais força?
Dizer algumas palavras...
Abro a dispensa da cozinha
Pego um saco de ração de alguns quilos
Despejo por toda a cozinha
Talvez essa ração sirva para alimenta-lo
Por alguns dias, talvez semanas ou meses
- Quanto tempo vai demorar
Até me encontrarem?
Bom, isso já não importa mais
Está decidido
Entro no meu quarto
E tranco a porta
Abro as janelas
Ah... Estas janelas
Quantas vezes com alguns cigarros
E alguns copos de Whisky
Não afogamos nossas mágoas juntos?
Olhando as luzes desta selva de pedra
Admirando a liberdade dos pássaros
Flertando com a melancolia da noite (...)
Abro a terceira gaveta da cômoda
Aonde guardo uma corda velha
Desde os meus dezesseis anos
Coloco-a na parte mais elevada do quarto
A posiciono perfeitamente no meu pescoço
Não deixarei cartas
Menções ou honrarias
Tudo que eu gostaria de dizer
Disse em Poesias
Com lágrimas nos meus olhos
E um sorriso bobo estampado no rosto
Dou meu primeiro passo em direção ao abismo
Dependurado como judas em
Um apartamento vazio
A minha alma chora em agonia
Algumas horas depois a minha esposa
Chega no apartamento
Após várias ligações não atendidas
Em desespero e chorando como uma criança
Ela encontra o meu corpo estirado no chão
(Devido ao meu peso, após o suicídio a corda estourou)
- Gerson!
- Gerson!
(Ela gritava desesperadamente)
- Fala comigo pelo amor de Deus
Deus não podia ouvi-la
Mas o Diabo...
Ele sempre esteve ali ao meu lado
Os uivos de melancolia do meu cachorro
Os gritos de desespero da minha amada
Oh Deus...
O que é que eu fiz?
- Gerson De Rodrigues