Poema - Devaneios de um homem morto
Poema - Devaneios de um homem morto
Há uma criança morta vivendo em meu quarto
Eu não me lembro quando a matei
Mas os seus olhos brancos e cheios de lágrimas
Me trazem lembranças de uma infância que eu nunca irei esquecer
Todas as manhãs
Limpo o seu crânio repleto de ratos
E planto flores em seu lugar
Sento ao seu lado e canto as mais
Belas canções
Até que a luz do sol entre pelas janelas
Afastando as baratas ao nosso redor
Hoje eu resolvi sair de casa
Para comprar roupas novas para a pobre criança
Descendo as escadas
Reconheci uma simpática senhora
Que chorava em completo desespero
Não conseguia ver o seu rosto
Mas reconheci as suas lágrimas
Uma sensação estranha de afeto;
Seguindo para o meu caminho
O mundo já não era mais o mesmo
A velha igreja da qual eu costumava frequentar
Quando criança havia desaparecido
A minha velha escola estava abandonada
Não consigo mais ouvir as risadas que ecoavam
Dos seus antigos corredores
Bom (...)
Talvez eu tenha passado tempo demais
Trancado em meu quarto
Há um homem parado na esquina
Vendendo roupas usadas
Acho que eu deveria dar uma olhada
O seu nome era Baal
E por algum motivo haviam moscas
Pousadas por todo o seu corpo
Talvez...
Seja devido as feridas em seus braços
Mas ele me parecia um homem gentil
Me doou um manto branco que brilhava
Como as estrelas da manhã
É tudo que aquela pobre criança precisava
Para sorrir mais uma vez
Voltando para casa
Novamente subi aquela velha escada
Um silencio profundo me incomodava
Parece que anoiteceu antes da hora
E todos devem estar dormindo
- Olá jovem criança
Eu te trouxe roupas novas
Ah (...)
Me esqueci que você não é muito de falar
Não é mesmo?
O Mundo lá fora estava estranho
Parece que passamos muito tempo
Trancados nesse quarto;
Pego o seu corpo fedendo a enxofre
Limpo os vermes e afasto as baratas
- Pronto, agora você pode sorrir novamente
O que foi? Por que não está sorrindo?
Ah..
Entendi
Você não gosta das noites não é?
Elas são solitárias
Também tenho medo solidão
Venha aqui (...)
Me de um abraço (...)
Vamos lembrar de quando ainda
Éramos capazes de sonhar...
- Gerson De Rodrigues