Talvez amanhã...
Amanhã pode ser um dia bom
Mas ninguém pode me garantir
Amanhã talvez possa ficar, ou fugir,
No amanhecer,
Daquilo que não sei entender...
Amanhã, é, talvez esquecer...
Que as coisas não foram com eu quis
Que os planos
Que fazemos
Não somos nós que os executamos
E que uma força contínua
Está sempre nos dominando,
E vamos por onde nem pensamos...
De repente a árvore seca as folhas
E no rosto secas desertificam o olhar,
E sem saber por aonde vamos,
Às vezes bate um desespero,
E eu, eu particularmente,
Sinto uma imensa vontade de chorar...
Eu olho pros lados
Há pessoas em todo lugar,
E desvio os olhos
E me desviando delas
Eu vou a caminhar,
E sigo um caminho
Impulsionado por uma vontade
De me dissipar...
E quando isso acontece
Faltar o ar é o que parece
E eu levanto a cabeça
E olho pro céu
E espero a noite chegar...
Fico admirando a beleza
Da ordem desordem das estrelas
À infinita distância,
A distância que não posso alcançar...
E tudo se transparece
E penso que encontrei
O porquê daquela vontade
Que me fez me distanciar
Daquelas pessoas tão boas e normais
Que estavam a me cercar...
Olhando o céu daquele jeito
Tantas estrelas a brilhar,
Uma luz que vem de tão longe
De um passando que não se pode alcançar...
Eu penso que entendi
Eu penso que me compreendi
Pelo menos ali
No meio-fio de uma calçada
Numa rua erma
Sem a possibilidade
De passar ninguém...
Nem na Estrada do Arroz...
Nem mesmo um gato noturno
Daqueles de cenas de terror,
Apenas eu ali,
Ali no escuro penso me identificar,
Não com o brilho daquelas miríades de estrelas,
Mas com a escuridão
Que está a separá-las,
A torná-las raras,
Porque, se olhares bem,
O céu
Não seria tão lindo
Se não fosse a imensa escuridão...
E às vezes é nisso que penso,
Que também é assim meu coração.
É, amanhã talvez seja um bom dia,
Um bom dia para tudo terminar...