MULHER INFECUNDA
(acompanhado de mbwetete* e um coro feminino)
Tumba-a-Ndala, oh kisula* de geração!
A voz magoada do teu coração entristecido
Se ergue no canto que cai em pranto
A pedir tão-somente compaixão
E os corvos escutam-te o grito desesperado
E fazem-te coro ecoando distante
Como um ruído qualquer—
Teu ventre é feito uma vargem sem semente
Nem fruto?!
Ai! Tumba-a-Ndala
Nossa querida flor ora afligida e desprezada!
A solidão verga-te a alma no leito
Em estações frias em que choras a sós —
Pois os que outrora passavam por aí
Em busca de algo fecundo em ti
Há muito desistiram da cansada travessia!
A tua sina, Tumba-a-Ndala, essa tua sina
Tão dolorosa assim —
O Kalombo* desértico assim ordenou
E nós outros devotos do culto Lunar —
Nós, outrossim, compadecemos contigo
Oh filha d’ alma penada!
Ao anoitecer, a Lua Matrona bebendo bruma
Do mar virado
Virá novamente qual génio-sacerdotisa
Acompanhada por demais curandeiras sabidas
Prestes a exorcizar
Espíritos contrários à procriação
E sarar a voz magoada do teu coração
Erguida no canto que cai em pranto
Somente a pedir tão-somente compaixão
E uma réstia de esperança
Para um sacro dia deixares tristezas do lado!
Mbwetete = instrumento musical
Kisula = mulher infecunda
Kalombo = deusa da infecundidade
Escrito em Kimbundu e traduzido para português por o autor.