Poema - Os Pássaros na minha janela
Poema - Os Pássaros na minha janela
Em meu peito vive uma angustia
que transborda pelos meus olhos
Respiro ofegante
sentindo um aperto em meu coração
O desespero toma conta do meu corpo
com as mãos tremendo
entro no banheiro aos prantos
Sem pensar nas consequências
eu me enforco no chuveiro
O meu corpo se debate em agonia
as minhas mãos tremulas tentam
se agarrar nos azulejos
O chuveiro estoura
sou arremessado ao chão de joelhos
e as minhas lágrimas fundem-se com a água
Chorando sem saber o que fazer
eu deito na cama abraçado a solidão
Passaram-se três dias
e eu ainda não me levantei
Vejo o meu corpo
definhar-se com a fome
os meus ossos secarem com a tristeza
As baratas no meu quarto
são as únicas testemunhas
do meu fim decadente
Lá fora há um pássaro
que canta em harmonia
eu poderia morrer agora
e seus sussurros me fariam sorrir
Com o corpo fraco
sentindo todo o peso do mundo
nas minhas costas
Em passos leves
eu tento caminhar até a janela
Ao abri-la
me deparo com um mundo
sombrio e repleto de dor
Sou arremessado de joelhos
nas chamas escaldantes
do meu próprio inferno
Caminhando descalço
em meio as chamas
Eu me vejo enforcado
gritando o meu próprio nome
Cristo se arrasta
ao meu lado de joelhos
enquanto a minha alma chicoteia
as suas costas
só para vê-lo sangrar
Ao fundo
eu vejo a morte
dilacerando almas confusas
com um sorriso em seu rosto
Um diabo terrível
se esgueira sobre os meus pés
E em seus olhos
eu vejo a figura de um homem triste
Deitado na cama
definhando-se com a fome
enquanto as suas angustias
corroem os seus sonhos
e o mata aos poucos
Aquela criatura decadente
definhando-se em seu próprio abismo
era tudo que eu fui
e tudo que eu sou
Aqueles eram os meus sentimentos
minhas dores
e minhas angustias
Os ratos se alimentavam
dos meus restos podres
e as baratas faziam ninhos nas minhas entranhas
Tal como cristo que sorriu
pela ultima vez
quando foi abandonado pelo seu próprio pai
Ou como as estrelas órfãs
a vagar na escuridão
Somente morto eu poderia sorrir
para os pássaros na minha janela...
- Gerson De Rodrigues