CANSAÇO
Sente-se cansada
Imensamente cansada
E nem mesmo sabe o que a exaure
Se a fadiga da luta incessante contra o tempo
Se o labutar contra a própria deterioração
Contra a necrose em vida, ainda
Se o esforço para suprimir a loucura_ busca pela razão
Se as horas imbuídas de tristeza pelo amor que nunca virá
Jamais veio com a totalidade e a certeza que almejou
Ainda que tenham vindo paixões arrebatadoras
Cheias das delícias que os corpos buscam
Mas apenas isso
Paixões
Sem ternura
Sem candura
Sem poesia
Não houve poesia
Não houve!
E isto cansa
Num cansaço que impele ao encontro de nada
Ao mesmo momento que sente tudo
E sente tanto por este nada
E sente mais ainda por este tudo que não trouxe completudes
Certezas
Profundidades
Apenas vazios
Vazios abismais
Viscerais
Sem ao menos buscar a não ambivalência
O ser menos quebradiço
Menos fronteiriço
Somente o eu no espelho do banheiro sujo
Estraçalhado
Cacos que sangram os pés
Por isso, o cansaço...
Total exaustão de si mesma.