Enquanto
Enquanto poetas
vislumbram o amor
O povo tem tirado
do corpo uma lasca
de couro!
Enquanto o poeta
fala sobre aquarela
As barrigas resmungam
na favela
Enquanto o poeta
Fala de dor
O proletário
Chora e pede esmola
Enquanto saboreia
O prazer em romances
água com açúcar
O povo está lá
A defender seu pão
E seu direito a labuta
O poeta vê o arco íris,
Nas mãos macias
do sentimento
Enquanto o povo
Sente no corpo
O calor da Shibata
Que rompe lhe na pele
mais que chagas
O poeta vê a dor do povo
Como se fosse uma novela
Troca de sintonia
Conforme lhe dá na telha
Mas o povo
Tá ali, vivendo o desgosto
E não pode virar o rosto
A ele não é dado escolha
Muitas vezes
ele nem tem TV
O poeta é como
um anjo imortal
Que não sofre da vida as mazelas
Mais nós aqui de baixo
Morrendo na fila dos hospitais
Como mortais
Esperando pelo estado
Fustigado pela miséria
Que não é de graça!
"Disconcordo"
Poeta nobre....
O poeta também é pobre.
Também, todos os dias, labuta.
É grande a sua luta.
Tristezas... ah, tem de montão.
Não sei como aguenta o seu pobre coração!
Cada dia morre um pouco
a esperança deste louco,
pois não vê a curto prazo
solução p'ra este fato:
Ser poeta ou ser feliz
com tudo isso que ele diz?