INSTANTE DE LUCIDEZ
Na frugalidade dos sentimentos frágeis e mesquinhos
Na ambiguidade da alto afirmação desfragmentada
Na imagem refletida no espelho dos dias
Nos ventos da impiedade com que Deus nos pesa
Na nossa incapacidade de atingir o patamar de sermos semelhantes à Deus
No verso patético do poeta que busca palavra para dizer o que quer,
ou o que não quer dizer,
por medo de dizer e ser incompreendido,
por medo de gritar e não ser ouvido,
por medo...
... Apenas por medo!
Porque somos perecíveis como barquinhos de papel....
E saber disso nos leva aos confins de nós mesmos!
Como aceitar que não somos bons o suficiente para sermos amados?
Como aceitar que nosso tudo é pouco,
e que se fizermos muito ou pouco,
não vai nos fazer visíveis?
Como ser invisível e não sucumbir?
Como não sucumbir por ser tão invisível?!
....Quantos abismos meu Deus!
Quantas portas fechadas
e quantas outras abertas para um mundo de " Nadas"??
Cansaço.
Cansaço de ocupar tão pouco espaço nas almas
Cansaço de não taquicardizar nenhum coração
Cansaço de não tirar ninguém da razão
Cansaço por não conseguir transladar o verso
e revoar por infinitos universos;
como nas asas da panapaná que fui um dia...
Até mesmo as margaridas estão perdendo o viço!
As pétalas estão obscurecidas
O pólen escasso
Abelhas já não sobrevoam sobre elas
... Triste o meu jardim
A luz do sol já não incide sobre as gérberas
e há folhas secas aos pés do velho banco de carvalho
Sinto falta daqueles que se sentavam ali
Sinto falta do riso da criança que brincava por ali
Sinto falta
de mim...
Sinto falta.
...E na realidade dos dias mortos
vou correr até a esquina e comprar cigarros.
Esperança de finitude antecipada.