INSTANTE DE LUCIDEZ

Na frugalidade dos sentimentos frágeis e mesquinhos

Na ambiguidade da alto afirmação desfragmentada

Na imagem refletida no espelho dos dias

Nos ventos da impiedade com que Deus nos pesa

Na nossa incapacidade de atingir o patamar de sermos semelhantes à Deus

No verso patético do poeta que busca palavra para dizer o que quer,

ou o que não quer dizer,

por medo de dizer e ser incompreendido,

por medo de gritar e não ser ouvido,

por medo...

... Apenas por medo!

Porque somos perecíveis como barquinhos de papel....

E saber disso nos leva aos confins de nós mesmos!

Como aceitar que não somos bons o suficiente para sermos amados?

Como aceitar que nosso tudo é pouco,

e que se fizermos muito ou pouco,

não vai nos fazer visíveis?

Como ser invisível e não sucumbir?

Como não sucumbir por ser tão invisível?!

....Quantos abismos meu Deus!

Quantas portas fechadas

e quantas outras abertas para um mundo de " Nadas"??

Cansaço.

Cansaço de ocupar tão pouco espaço nas almas

Cansaço de não taquicardizar nenhum coração

Cansaço de não tirar ninguém da razão

Cansaço por não conseguir transladar o verso

e revoar por infinitos universos;

como nas asas da panapaná que fui um dia...

Até mesmo as margaridas estão perdendo o viço!

As pétalas estão obscurecidas

O pólen escasso

Abelhas já não sobrevoam sobre elas

... Triste o meu jardim

A luz do sol já não incide sobre as gérberas

e há folhas secas aos pés do velho banco de carvalho

Sinto falta daqueles que se sentavam ali

Sinto falta do riso da criança que brincava por ali

Sinto falta

de mim...

Sinto falta.

...E na realidade dos dias mortos

vou correr até a esquina e comprar cigarros.

Esperança de finitude antecipada.

Elisa Salles ( Elisa Flor)
Enviado por Elisa Salles ( Elisa Flor) em 12/07/2017
Código do texto: T6052871
Classificação de conteúdo: seguro