O POETA E O TEMPO

Não escrevo para me fazer notar

Antes, escrevo para desaparecer

... Me fazer invisível neste mundo tenebroso

Ouvir à mim mesma no silêncio que me inflijo

Não canto canção alguma

Não mostro meus dentes

Não sorrio nem choro

Faço-me dormente

e demente...

Há cada verso um pouco de mim se esvai

Escorre por entre as areias do tempo

Sou raiz, sou matriz, sou nada, sou tudo, sou folha e sou vento

Mas na poesia

Alheia ao verbo não quero ser nem mesmo escuridão

Porque o poema me é

O poema me delata,

me mata,

me revive e me conclui.

Fora isso nada me seduz

Nem o beijo ausente

Nem o que ganhei da boca embriagada e inconsciente ( do beijo)

e de mim.

Não tenho pretensões de ser poeta

Não tenho pretensões de ser lembrada

Quero apenas ficar

... Ficar aqui

Onde nada me toca

Embrenhada no covil das palavras

Intocada em meio aos substantivos que não sustem cousa alguma

Deus, como pesam os dias de ontem

e como são mordazes as horas de hoje!

Somente o amanhã me é leve

Levíssimo!

Pela possibilidade da não existência.

Elisa Salles ( Elisa Flor)
Enviado por Elisa Salles ( Elisa Flor) em 12/07/2017
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