Para saber-se sabedor de nada...

Esses cantares de boca de gamela,

de tanto estrídulos, produzem vento

e apagam o lume rubro da candeia,

matam o halo dourado d’arandela,

tão mais etéreo que o pensamento

ou mais luzente que a lua cheia.

Esses vibrares de foles aflitos,

mais rangentes que o carretão que chia

no duro aperto do eixo e da roda,

matam o sonho dos seres contritos,

assassinam a fé e a vera alegria

que a cupidez sombria caça e poda.

Esses sonhares de olhos noturnos

varam as madrugadas assombrosas

e bailam pelas lápides jacentes,

nos assoalhos pétreos e soturnos

onde murcham e fenecem as rosas

e pousa o negror das asas silentes.

Para saber-se sabedor de nada,

mui menos há supor-se sabedor de tudo,

mais dorido que a cinérea e ruda estrada

é cada passo claudicante e muito rudo.

Inverno de 2016

Aleki Zalex
Enviado por Aleki Zalex em 03/06/2017
Reeditado em 25/09/2019
Código do texto: T6016984
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