ADORAÇÃO

Solidão, por que tua face se desmancha em pranto

ensopando-me o espírito acabrunhado?

Por que suspiras no frio desmanchado

pela vã lembrança de algum acalanto?

"-Se meus olhos em rio se converte

e meu corpo confunde-se às brumas,

abandona-me então nessas furnas

onde os ecos meu brado repete!"

Dizei-me se foi o desengano

que te condenou vaguear pelos ares,

sem sol, nem lua ou mares,

só o enlevo da dor o espírito acuando.

"-Pois se minh'alma o vento transcende

vagueando nos sonhos sozinha

é que um anjo meu desejo acende.

Querubim alado com denso encanto

que no regalo de teu abandono vive,

despertou-me com o queixume de seu canto."