PEQUENA ODE PAULISTA
São Paulo! Salve, Mário de Andrade!
Meu coração é como os ferros da Estação da Luz!
Das horas da minha curta e solitária infância
Trago na boca o teu sabor amargo.
Mas de que valem as mãos se não para acenar
E de que vale a boca se não para dizer adeus?
Mas de que vale o coração
Se não para nos seus recônditos abrigos
Guardar uma saudade impertinente?
Saudade sim, das tuas molduras de concreto,
Do teu céu de chumbo e do teu rosto indiferente.
O que seria de mim se não fosse a tua solidão,
São Paulo?
A estrada da vida não é feita de asfalto
Não obstante, nela a grama já não cresce.
Nas ruas nadam peixes de metal
Rumo ao mar que nunca alcançam.
Olhos de vidro das janelas
Passam mirando minha melancolia.
Sou filho dos teus rudes trejeitos, São Paulo.
Da fina garoa que reflete
A tristeza que guardo no meu peito
E as feias flores que crescem na sarjeta
São minhas tristes irmãs neste destino.