Precisa morrer.

Tinha a escuridão na pele

e sua alma carregada

de muitas dores e sons.

Tão leve que se sentia,

que ao levar a chibatada,

atribuía-lhe tons e semitons

e entoava tantas elegias,

suas lágrimas entrecortadas;

quanto gemidos sufocados;

por tentativas de respirar

lhes permitiam...

Tinha o sangue nos olhos

que se não eram de raiva

nem de ódio aos seus algozes

nem eram o seu derramado,

era um tanto represado

e outro que lhe forçava as veias,

a pulsar em coração acelerado;

a sair por braços retesados

em algemas, em cordas

ora presos, ora a puxados,

ora contidos, ora enforcados.

Sonhos nem tinha, nem cabiam

porque nem os sabia existir

nem daqueles que se tem acordado

porque nem sono podia curtir,

porque se tinha que dormir de pé

porque impossível cair,

amarrado forte pela cintura

ao tronco de madeira dura,

que no fim de sua vida curta

já ia com ele para a cova rasa;

já era parte de sua carne escura.

Quisera cantasse com seus irmãos

à uma sorte de servir na casa grande

ou se a senzala lhe fosse comum e fácil,

espírito que se sente livre, sem nunca nascer;

espírito que se sente alma, e dizem não ser.

Quisera corresse como os cavalos no campo

ou como os pássaros pudesse voar,

mas nasceu nesse corpo como gente

e nunca pôde se libertar, tanto o estourasse

tentando provar que não lhe pertencia.

"Ah, alma que pena! Vá, como querias!"