NÃO FAÇO VERSO EM VÃO
Não faço verso em vão.
O poema é um pássaro preso numa folha em branco.
Eu fendo a folha, o verso se liberta
E beije a luz.
É preciso escutá-lo e saber se quer sair.
A vida é dura, o amor é pouco e a alegria
Raramente tem me visitado.
Isso é deveras desesperador,
Mas não é motivo para versejar.
Existem os bares, os livros, o abraço dos amigos,
O beijo dos amores fugidios.
Existe a noite e existe a chuva
Onde consigo esconder meus prantos.
Fazer versos pra que?
Os poemas não nascem quando quero.
Ele fica aqui dentro em silêncio
Germinado quando estou a cismar.
A dor que sinto a cada instante
É a dor de suas asas crescendo.
Eu escuto... ele chora.
Bate com as asas de ferro
Nas paredes do meu peito.
Ele cresce. Traço, um risco, uma letra... ele explode.
Ele se livra e me liberta.