PELO MENINO
Eu tenho vocação para a tristeza.
Constato nos meus olhos, ao espelho.
Todos os demais, momentos.
Tristeza tênue, morna e constante.
Tristeza apenas.
Refletida nos olhos, onde me vejo.
Há algo de não realizado no fundo deles
Alguma ideia não nascida, martelando.
Um sonho abortado ou esquecido
Um quê de irrealizado
Um final de esperança como um feto natimorto.
Meus olhos nunca sorriem,
Perscrutam a face do menino que fui,
E que se esvaiu no tempo
E que de algum lugar grita por alento e afago/
Olhos inquisitórios e taciturnos.
A mente, que olha a si mesma
Por trás dos meus olhos,
Engendra palavras que teimam em não ser poema
Palavras se querem livres
Para além dos sentimentos cinza
E das vocações inverossímeis...