LABIRINTO DE CRETA


Um jogo inocente em mãos inocentes;
Um jogo mortal nas mãos de mortais;
Um jogo cruel por mãos de imortais
– mais um jogo dos deuses,
que jogam com a nossa vida
e com o nosso destino brincam
como um imprudente infante
ao testar suas habilidades
no Labirinto de Creta!
 
Assim passam o tempo os deuses
Ao sentirem o peso de Saturno
Em sua imortalidade,
Usando os mortais como passatempos,
Como divertidos brinquedos!
 
Cinco esferas metálicas
Em círculos concêntricos
A celebrarem os mistérios taurinos
Nos cinco planetas conhecidos
A orbitarem a Terra dos antigos
– um planetário antigo feito labirinto;
um labirinto antigo feito jogo!
 
Meu mundo vejo como o orbe
Metálico a rolar pelo labirinto
Criado pelas Parcas, chocando
Contra as paredes, acabando
Em terrível dor e sofrimento!
 
Sinto a gravidade do jogo,
Que me lança de um lado a outro
Como se de ferro fosse
– uma liga dele na forma
de uma resistente e fria esfera de aço –;
Como se invulnerável fosse
A tantos tormentos;
Como se usasse a fulgente
Armadura de Aquiles!
 
Estou em mãos mortais
E femininas que brincam
Com meu coração e minha vida,
Que é virada de um lado a outro
E de cabeça para baixo
– sinto no estômago o enjoo
e o nojo que expressam
sua revolta pela boca!
 
Querem me levar ao centro do jogo,
Ao ponto labiríntico
Onde encontrarei o Minotauro
– o devorador de corações –
Para ser oferecido em sacrifício
Como os jovens atenienses!
 
Não basta transformarem
O amor em mito
E ao mar de prantos me lançarem,
Ou ao Mar dos Sargaços;
Querem me afundar – marejado –
Nos dramas do antigo Egeu
E beberem meu sangue vertido
No lúdico labirinto!
 
Mesmo vivendo um jogo
Deveras cruel e ainda
Que brinquem com minha vida,
Consigo guardar
Um pouco de inocência e lembrar
Com nostalgia dos jogos
E brincadeiras da infância,
Quando o Labirinto de Creta
Era apenas um recreativo desafio!
 
Lembro-me das histórias e mitos
Contados e lidos,
Das brincadeiras e danças de roda!
 
Lembro-me do voo dos grous
A inspirarem Mercúrio a criar
As letras gregas muito antes de Febo;
Lembro-me do voo dos grous
A inspirarem Teseu e os seus
Na ilha de Delos,
A meio caminho de regresso a Atenas,
Perfumados por coroas de gerânios
Em comemoração à sua heroica aventura cretense
Sobre o labirinto riscado no chão,
De mãos dadas com donzelas e efebos
De forma intercalada em uma dança
Em diferentes direções
E círculos cada vez menores até o centro,
E depois de volta ao início
– eis a Dança dos Gêranos a me instruir
de forma lúdica e artística!
 
Na pureza singela da infância
Encontro Minerva e ouço
A voz de Victoria em sua destra
– já não me encontro perdido!
 
Mas nesse jogo de deuses,
Onde as deusas brincam
Com meu destino e a mortal
Com meu coração se diverte,
Teseu terei que ser
E o amor de Aryadne buscar:
Trocarei o fio da vida
Enovelado pelas deusas
Pelo fio de uma nova vida
Fiada pela Senhora do Labirinto
E de seu novelo desenrolada
– sei que o destino imutável
não passa de um triste mito;
reescreverei o mito da princesa
e não a abandonarei aos lábios
inebriantes e rúbeos de Baco!
 
Envolto pelo incenso
Do templo da deusa
– minha protetora –
Meus brados viajam
De Atenas até a ilha
Por etésios ventos:
Decreto a morte de Astérion
E anuncio o fim do jogo
Dos deuses em gloriosa vitória
– o único sangue que verão
é o da cruel besta de Creta!

 
Julia Lopez

18/09/2013
 
 

Foto: vários recortes de imagens da internet sem identificação de autoria sobre wallpaper do website digitalblasphemy.com. Busco exaustivamente a autoria de cada imagem, mas nem sempre a encontro. Caso alguém conheça sua autoria, por favor, me informe para que eu possa identificar a imagem e dar o merecido crédito ao artista!

 


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Julia Lopez
Enviado por Julia Lopez em 19/09/2013
Reeditado em 10/01/2024
Código do texto: T4489457
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