O JARDIM DA MEDUSA

Águas marinhas, suplício e morte
Regalaste com teu toque de medusa
Àquele que um dia te fez consorte
E te deu um palácio – te fez Rainha!
 
Profanaste o templo de Minerva
E aos divinais deleites das águas criadoras
De um mar de lascívias te entregaste,
Mas nunca foste sacerdotisa da sabedoria,
Então não és a temida e cruel Medusa!
 
Não poderias ser,
Pois vejo “a Impetuosa”
Na Égide a mim regalada
Por minha protetora
À guisa de Gorgoneion
Contra o amargor da tua língua
– que espalha blasfêmias,
discórdia e intrigas –
E dos teus lábios que beijam
Com selo de morte ao sugar
Toda a felicidade e a vida
– é meu poderoso amuleto
para afastar tua presença
obsessiva e para proteger
contra o teu desamor e fúria!
 
Mesmo com todo o teu rancor,
Ciúme, inveja e cobiça, não és
Uma das três Fúrias, pois moral
Não tens para castigar delitos
Contra a aliança de um casal
– ainda que com fúria atormentes
e persigas como a “Benevolente”!
 
Como a horrenda criatura marinha,
Pela carne de Andrômeda ávida,
A pureza e o amor devoras
Para em teu ventre sepultá-los,
Mas os deuses estão a meu favor,
E com uma gesta minha donzela salvo
– seu ventre gesta o nosso amor!
 
Sob a égide de Minerva e Vênus,
Paz hei de trazer à minha mente
Para meu coração e minha vida
Reconstruir de forma consciente!
 
Não mais poderás nos atormentar
Com tua língua enferrujada e cortante,
Ou com o peso do teu coração de pedra!
 
Como Perseu a Polidectes,
Mostro-te a cabeça da Górgona
E petrifico-te na posição na qual
Desejo me lembrar de ti,
Para que adornes o palácio
Que usurpaste e destruíste
– para trás não olharei,
pois temo em escultura
me transformar com tuas
imprecações póstumas!
 
Não, com ódio e vingança não
Há de ser ornado, nem com tudo
Que agora pétrea representas
– com o amor e pureza próprios do palácio
e da donzela que agora o governa,
não ornarás; espaço não haverá
para maus sentimentos e desejos!
 
Não te quero mesmo que seja
Como ornamentação fúnebre
Para o mausoléu que guarda
O amor que alegre destruíste;
Estás para mim na companhia
De Plutão – sombra passada
que assombra o presente!
 
Buscarei outro lugar para ti,
Para o teu descanso eterno:
Serás levada a Oeste
E além dos domínios do Oceano,
Para as terras cimérias
Nos limites do mundo,
No País da Noite Eterna,
Próximo à entrada do Orco;
Lá serás deixada em meio
Ao frio e à névoa, à entrada
Do funesto covil, plantada
Junto às infelizes estátuas
– és o olvido em escultura,
a estatuária perfeita a decorar
O JARDIM DA MEDUSA!

 
Julia Lopez

01/09/2013
 
 

Fotoarte digital “Madonna Medusa”, de ~C00LB0Y (no website DeviantART).

 


Visitem meu Site do Escritor: http://www.escrevendobelasartes.com/

 

Julia Lopez
Enviado por Julia Lopez em 03/09/2013
Reeditado em 10/01/2024
Código do texto: T4464940
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