És cava-dor
A minha vida sobrepuja os túmulos
E eu cavalgo a dor dos anos
O meu silêncio é só de pranto
E meu canto, no meu canto, é recanto de solidão
Habitat de mortes.
Eu não vejo mais pele que ossos
Ossos do edifício homem
Ossos do ofício
Nem sempre, nem só, nem tanto
Sua voz ecoará em mim sobretudo até os céus
O meu céu não te condenará
Do passado que renasce em minhas memórias
Das poucas que tenho agora
O meu passado é meu invento
Onde exerço a fé teimosa de crer
que o outrora me fala mais que o agora
Eu vivo do que já viveu, agora morto
sugando a seiva do que é lamentado
Bebendo a dor de não ser o que se quis
um adaptado.
Meu medo é do presente-instante
que sendo um, dura milanos
Longe de minha compreensão
o futuro-aquém é esperança da qual não tenho pretensão.
O tempo cresce, e eu diminuo
O tempo é jovem, por isso veloz.
E eu tão velho...
O tempo é tão rígido comigo
E eu não mais sou mais rígido.
Senhor, meu Deus, até quando
tantos tombarão antes que eu me vá?
Porque ver todos os que eu amo partirem?
Ó dor de ficar!
Eu ainda sinto o acalento de seus ombros
de suas mãos e tantos abraços
os seus corações ainda persistem sobreviver
na persistência do meu. Antônio dos Santos