Show de sangue

O gosto de sangue é constante na minha boca.

O sabor de hipocrisia palpita em meus lábios.

Já não sou mais o mesmo, sou diferente agora, as coisas mudaram, e nada mais é constante.

O tempo passou, o meu tempo passou, e tu ficou para trás.

Minha cidadela agora está fechada, estou preso dentro de meu próprio oásis angustiante.

Sofridas decisões? Talvez, não posso, nem consigo explicar, estou cansado, farto,

Já não aguento mais, você continuou o mesmo, tu continuaras em cima do saco de trigo, deitado mascando palha, fumando teu charuto de ilusões, e eu caminhei com os ciganos, estou além, estou aquém.

Já não deito no mesmo leito que você, já não sinto mais prazer, meu sexo agora está castrado.

Teus olhos já não me acompanham mais, e teu sorriso agora se torna sério.

Vejo teu ressono gostoso, embalado em sonos e desventuras, e eu sigo acordado nessa meia idade que não é minha, estou cuspindo no prato que comi.

E você, para onde foi? Onde foi parar essa consciência? Ou seria inconsciência?

Virei caos e confusão confete e evolução, amor em ebulição.

Prazer sem emoção, paixão sem um pingo de tesão.

Teus olhos não me acompanham mais, miram um luar distante que eu já conhecia e agora não conheço mais.

Não me pertence tal passado, não quero levar isso como futuro, já não me espelho mais no antes, não creio no presente e erro em minhas previsões.

Estou cego, morto e faminto por dentro, não sinto mais amor pela garrafa que me abraça, muito menos pela fumaça que me envolvia, estou descolado, solto, incompreendido.

Onde foi parar minha sanidade? Não sei quem sou, nem quem deveria ser.

Ou pelo menos julgava ser?

Estou sinistro, embrutecido. Empobrecido talvez?

Vagueio em noites sem rumo e sem um pingo de você, desisti de acompanhar, de andar lado a lado em par.

Estrou enegrecido, enrijecido, não tenho luz própria, e meu holofote que era você, se apagou.

Meu show acabou.