ESPIRAIS

© Dalva Agne Lynch
 


A janela é sempre a mesma. As flores são outras
mas da mesma roseira no mesmo canto do jardim
e os olhos com que as vejo ainda buscam nelas a mesma coisa
e ainda que tenha mudado por dentro, a casca me é a mesma
apesar das tantas ondas que se me passaram por cima
afogando-me em espumas de buscas vãs.
Talvez por isso a janela seja a mesma, assim como a roseira
e também o que busco, mas nem sei o que busco!
Tudo o que faço é errado, ou foi certo na hora errada.
E pergunto-me como, sendo a janela a mesma, na mesma roseira
vi um dia flores que significavam algo mais do que elas mesmas.
Enganaram-se-me os olhos?
Não. É apenas a mente do poeta, que fabrica sonhos com as cores
e nuvens de sensações com o perfume.
Então é essa a mesma janela, sob a qual a mesma roseira
com outras flores que ainda assim são as mesmas
afogam-me em ondas de perfume e cores.
Fecho os olhos, ouvindo sons onde só ecoa o silêncio
e sento-me ao teclado, outra vez tecendo os mesmos poemas
a carícias de brancas mãos que já se foram
e vejo as rosas
as mesmas rosas, na mesma roseira
sob a mesma janela
à luz do mesmo sol.
Apenas eu
já não sou a mesma...
 
Site oficial da autora: www.dalvalynch.net

Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 12/03/2012
Reeditado em 09/08/2012
Código do texto: T3549943
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