Enterro

Luto de preto,

Muitos não usam essa moda,

Importa o motivo de respeito,

É preciso acompanhar a história.

Familiares em prantos,

Consolo da viúva,

Caso tenha uma chorando,

Isso na hora se apura.

Velório que não pode faltar,

As tão solicitadas velas,

Pilares ao lado para sepultar,

Rito de antigas épocas.

Carpideiras profissionais,

Óculos escuros,

Olheiras criando fossas orbitais,

O ambiente é mais mudo.

Flores de cores diversas,

Coroas ornamentando o caixão,

Caixa que abriga quem já era,

Cerimônia de muita comoção.

Servem alguns aperitivos,

Bebe-se o defunto em certos costumes,

Cantorias de religiosos motivos,

Há rezas que levam o momento ao cume.

Lágrimas que fertilizam a terra,

Em terra se abre a cova,

Boca que absorve quem degenera,

O último instante de glória.

Abaixa-se a urna,

O último adeus,

A terra cobre a tumba,

Dizem, “Foi com Deus.”

Plantados no solo feito adubo,

Diz a escritura que “do pó vieste

Para o pó voltarás”, é o rumo,

Mas há quem a isso renegue.

Enquanto o corpo apodrece,

Os devotos buscam consolo em outra vida,

A carne diante da decomposição padece,

Enquanto dizem haver esperança espiritual redimida.

Aqui nós escondemos,

Infertilizamos o chão,

Esse semente não queremos,

Não vingará feito fruto são.

Depositamos nessa passagem,

Valores que muitas vezes negamos,

Concluímos também nossa liberdade,

Com a finitude crua nos deparamos.

Cumprimentos de pesares,

Sociabilidade da dor,

A hora do gesto de familiares,

Superação a quem ficou.

Ainda se pratica cortejo,

Homenagens fúnebres,

Emprega-se o coveiro,

Das risadas que não abusem.

Não deixa-se de ter despesas,

Mesmo no fim das finanças,

Fica a dívida pros vivos, é a certeza,

Realidade capital que espanta.

Decora-se com uma fotografia,

Existe preferência por símbolo místico,

Tem que morre junto de agonia,

Mesquinharias não se calam diante disso.

Tocam o morto gelado,

Cadáver exposto com insetos,

Começa a fica inchado,

O aroma se torna indigesto.

Vigília dos aflitos,

Comunica-se a noticia,

Nota-se quando chegam os ricos,

Os humildes tem atitude mais prestativas.

Burocracia de óbito,

Carrinho que transporta lento,

Alça do caixão é preciso segurar com propósito,

Crianças brincam sem entender o que está acontecendo.

Comentários sobre as causas,

Morreu de que, porque, a que?

Olhos piedosos aos que sentem mais a falta,

Desesperados dizem não saber o que fazer.

Escolhe uma roupa que o falecido gostava,

Faz-se as vontades de quem está com o pé na cova,

Relembram momentos que a todos emocionava,

Até herança certo avarento cita fora de hora.

Algodão no nariz,

Pálpebras abaixadas,

Mãos cruzadas como se diz,

Beijo na face congelada.

Dizeres em lápide,

Os mais simples com apenas uma cruz,

Indigente não tem essa homenagem,

Enterrados em sigilo, não há quem o conduz.

Conta status o volume de pessoas,

Nota fúnebre que vem dar importância,

Por anos algumas vezes ressoa,

Um falecimento pode ter longa distância.