Pão nosso
Diáfanos vapores em meus olhos vazavam
E somente as mãos estendia-lhes a esmolar
Ainda que fossem gestos amenos, calavam
A fome que corrompia quem vivia a minguar
E a míngua eu vivia, pela água e pelo pão
Pela brasa que ardia na face e no ventre
Pela súplica penosa de agora e sempre
Eu vivia da vida do céu e do chão
Se pedir fosse muito não era mais que oração
E a cada dia eu orava pelo banquete alheio
Que se o ganhar fosse pouco era maior a gratidão
Pois de migalhas nutria meu eterno devaneio
Quem terá meu Deus pena de mim
Que sou pobre e feio e de tão pouca valia
Que vagueio nas praças, faminto querubim
Traído pela fome o pão nosso de cada dia.
Carlos Roberto Felix Viana