Pão nosso

Diáfanos vapores em meus olhos vazavam

E somente as mãos estendia-lhes a esmolar

Ainda que fossem gestos amenos, calavam

A fome que corrompia quem vivia a minguar

E a míngua eu vivia, pela água e pelo pão

Pela brasa que ardia na face e no ventre

Pela súplica penosa de agora e sempre

Eu vivia da vida do céu e do chão

Se pedir fosse muito não era mais que oração

E a cada dia eu orava pelo banquete alheio

Que se o ganhar fosse pouco era maior a gratidão

Pois de migalhas nutria meu eterno devaneio

Quem terá meu Deus pena de mim

Que sou pobre e feio e de tão pouca valia

Que vagueio nas praças, faminto querubim

Traído pela fome o pão nosso de cada dia.

Carlos Roberto Felix Viana

CarlosViana
Enviado por CarlosViana em 21/08/2011
Código do texto: T3173023
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