Arte de Tristeza

Tomo este pincel,

Mergulho no guache do seu pranto,

Vou desenhando um céu,

Paisagem noturna que causa espanto.

As gotas que brotam da sua face,

São tinta que utilizo na arte,

Compondo uma pintura por partes,

Onde o desespero desague.

As cerdas são teus cílios,

Pincelando a superfície,

Tela repleta de um brilho,

Que nenhum louco resiste.

Só uma personagem pintada,

Humor melancólico,

É possível ver a fronte abaixada,

Postura de psicótico.

Teus olhos continuam dando material,

Para compor o quadro dramático,

O fundo é de profundidade abissal,

A obra puxa quem a vê, para um estado estático.

O estilo é sombreado,

Como a maquiagem borrada,

Trevosamente ornamentado,

Parecendo uma trágica piada.

Apesar das lágrimas aquosas,

As cores se formam,

Mistura-se com substâncias expostas,

Uma alquimia que revigoram.

Blushes que forma um caleidoscópio,

Remelas e pelos soltos dão textura,

Mesmo os ácaros miscroscópicos,

Ajudam a criar tão horripilante figura.

Até o batom se rende,

Doa sua forma pastosa,

Tudo se faz deprimente,

Até gloss entra na história.

Nessa miscelânia de maquilagem,

Emerge um depressivo misantropo,

Preso nesse volume que o invade,

Transbordando numa espécie de foto.

Seria sonho se não fosse pesadelo,

Aquele olhar que não se revela,

Traços surgindo com se fossem a esmo,

Artista que se mata ao expor na tela.

Logo percebe em outros rostos doloridos,

Novos palhaços de caras deformadas,

Tipo um Coringa insanamente percebido,

Simulacros de uma angústia malfadada.