O Andador
Peça de utilidade,
Parceiro de andar,
Me ajuda na senilidade,
Com ele posso caminhar.
Me deslocava indiferente,
Veio a idade e a coisa mudou,
Antes era atrevido e displicente,
Agora me apóio nesse andador.
Posso entender onde cheguei,
A Sphynx revelou o último mistério,
Olho pra trás e recordo a vida que levei,
Olho pra frente e vejo um cemitério.
Mas tenho meu fiel amigo,
Se faz de outra perna pra mim,
Me escoro e ele não reclama comigo,
Sem ele seria duro eu poder resistir.
Já carreguei tanto peso nas costas,
Hoje este que me carrega na sua estrutura,
Meu corpo se tornou fardo agora,
Na memória poucos vestígios das antigas aventuras.
O pé vacila e o apoio auxilia,
Os outros olham com piedade,
Sabem que em breve eu desistiria,
Essa é a minha única realidade.
Quando eu morrer, ele não irá pro túmulo,
Talvez se torne uma relíquia aos mais chegados,
Deveria servir a outros velhos sem prumo,
Sua natureza é endireitar os passos já cansados.
Graças e ele, mesmo tropeçando, caminhei,
Mesmo que a passos vagarosos, lentos,
Fui adiante, ainda com pouca esperança, sonhei,
Agora dizem aos meus familiares: "- Meus Sentimentos!"