As Lágrimas Veladas

Chorar pode demonstrar,

Muitas coisas a alguém,

Mas existe algo a revelar,

Que se esconde muito além.

Os olhos manifestam,

O lacrimejar que brota,

Mas nem sempre se interessam,

Num escorrer visto de fora.

Pois o peito suprime,

Aquela dor que angustia,

Mas a aflição é sublime,

Pode não vingar por revelia.

Para os mais sensíveis,

É possível perceber algo oculto,

Antes das gotas previsíveis,

Existem lágrimas em outro mundo.

Aquelas que surgem na fronte,

São a externação que dos sulcos brota,

Mas no âmago do coração está a fonte,

Lá está velada a natureza que nos estiola.

Sofre-se sem uma gotícula sequer escorrer,

Mas as batidas dentro do peito sofrem,

O sangue bombeando num lamento de entorpecer,

Aos mais iludidos, não enxergam o quanto elas doem.

O corpo inteiro acompanha as gotas sanguíneas,

Chora-se por dentro de forma plena,

Alguns até pensam ser manifestação de força malígina,

Mas é a essência da dor que nos alimenta.

Quando Osíris pesava os corações,

Sabia da importância desse feito,

Os amantes afligidos pelas emoções,

Conhecem o pranto que emana do peito.

Essa lágrima velada é muito íntima,

O que sente guarda pra si o sofrimento,

É uma depressão que se faz infinita,

Devorando-lhe de fora pra dentro.

Vez ou outra alguém consegue captar,

Um olhar, mesmo sem umidade denunciadora na fronte,

Transmite um brilho que é capaz de denunciar,

Quem observa é invadido pela Quimera do olho Belerofonte.